Por Nicole Ayres para o Homo Literatus
A Cultura Cine Vitória, considerada a maior livraria do centro do Rio de Janeiro, fechou as portas. Ela possuía quatro andares, 3,2 mil metros quadrados e dispunha de um grande acervo de livros, DVDs, CDs, além de um café e um teatro, chamado Eva Herz, onde já estiveram em cartaz peças como O Doente Imaginário, de Molière, Auto da Compadecida e O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna, e O Processo, baseada na obra de Franz Kafka.
Segundo a administração da rede, a loja era deficitária. Oficialmente, foi feito o seguinte comunicado:
“Com este movimento, a empresa segue rigorosamente o plano estratégico traçado para os próximos anos: manter unidades com alta performance, enriquecer cada vez mais a experiência do cliente em loja e crescer significativamente no e-commerce. Diante do cenário de incertezas no país, não podemos ser irresponsáveis a ponto de manter lojas deficitárias. Por isso, como já é de conhecimento público, tomamos a decisão de trabalhar com poucas, mas ótimas lojas físicas, em diferentes cidades”.
Infelizmente, a manutenção de livrarias não está sendo mais lucrativa. Para além, os preços da loja não eram dos mais atrativos, porém suas obras eram de muita qualidade. A livraria também carrega um valor simbólico: apenas passear pelas estantes, sentir cheiro de livro novo, folhear as novidades é um prazer para o leitor. Portanto, com o perdão do trocadilho, o fechamento da Cultura representa uma grande perda para a cultura carioca. Assim, o centro da cidade perde parte de seu charme para os amantes da leitura.
Além disso, outras notícias similares também preocupam, como o fechamento de mais de seis Naves do Conhecimento, por falta de pagamento da Prefeitura do Rio. O objetivo dos institutos seria democratizar o acesso ao universo digital, oferecendo oficinas, cursos e eventos relacionados a diversas áreas, dentre elas informática, economia criativa e tecnologias da informação. Como consequência, a Semana Nacional da Ciência e da Tecnologia terá suas atividades interrompidas. As Secretarias Municipais de Fazenda e de Desenvolvimento, Emprego e Inovação (SMDEI) se pronunciaram alegando que buscam recursos para o pagamento.
Ainda no Rio, recentemente, a Biblioteca Parque Estadual, que também estava fechada desde dezembro de 2016 por falta de recursos, reabriu em junho deste ano, porém com horário reduzido e serviços suspensos, como a falta de acesso à Internet. A biblioteca conta com grande acervo de livros e alguns DVDs, auditórios, saguões e palcos onde é possível realizar exposições ou alugar salas para reuniões. Esperamos que suas atividades continuem e que não fechem novamente as portas.
Em conclusão, nesse momento de eleições, é importante ficar atento às propostas dos candidatos em relação à cultura. Infelizmente, consta-se que a palavra “cultura” aparece apenas uma vez no programa de governo do candidato à presidência líder das pesquisas, referindo-se a outros países. Vivemos, então, um momento de muito pouco incentivo a iniciativas culturais, fato lamentável. Enfim, podemos apenas esperar que o quadro se reverta lutando pela manutenção de ambientes culturais no Rio de Janeiro, exemplo dado, e no Brasil como um todo.