Fazendeiros atacam os Avá Guarani na Tekoa Yhovy, Guaíra, Paraná, como se estivessem numa noite de caçada

Na madruga de 27 para o 28 de agosto, de 2024, fazendeiros fortemente armados atacaram os Avá Guarani da Tekoa Yhovy, Terra Indígena Guasu Guavirá, no oeste do estado do Paraná.

No ataque, com armas de fogo, portadas tão somente por fazendeiros e seus capangas, muitas pessoas foram alvejadas, pelo menos seis estão internadas, sendo que duas delas, pelas informações passadas, em estado mais grave. As pessoas feridas são, na quase totalidade, jovens mulheres.

Os ataques a tiros começaram por volta das 23:00h de 27 e se prolongaram pela madrugada do dia 28 de agosto.

A tática dos fazendeiros, como era escuro e não conseguiam enxergar os indígenas, que buscavam se proteger, foi disparar com espingardas, porque os chumbos se espalham e sempre acertam alguém. Eles, os fazendeiros, fazem isso nas caçadas de javalis, que em geral também ocorrem nas madrugadas.

Ou seja, os facínoras, utilizaram táticas de caça para atacar covardemente os indígenas. Na prática, para os facínoras, os indígenas são tratados como animais a serem abatidos.

Houve, da parte das jovens indígenas, enquanto foi possível, a iniciativa de transmitir ao vivo, por uma rede social, o ataque sofrido. Quem, naquela hora, pode assistir, via e ouvia, entre reflexos de luzes de camionetes, o fogo dos canos das espingardas e, concomitante, os gritos de desespero das pessoas. Cercadas pelos algozes, os Avá Guarani proferiam apelos por socorro, já que o número de feridos aumentava.

A Força Nacional, mais uma vez, foi acionada, porque caberia a ela monitorar e coibir a violência. Não foi o que ocorreu. Os policiais demoraram até chegarem ao local e, pelos relatos dos indígenas, mesmo com a presença deles os disparos não cessaram. Parece que as forças polícias estão lá para proteger quem ataca e mata.

Tão somete no final da madrugada um motorista da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), chegou ao local para remover os feridos a um hospital da região.

O Conselho Indigenista Missionário, Regional Sul, repudia veementemente os ataques e as violências praticadas, de forma corriqueira, cruel e articulada pelos facínoras do agronegócio. São alguns plantadores de soja e milho, mas que se comportam como criminosos contumazes, sobre os quais as mãos da Justiça e muito menos as mãos das demais instituições públicas, federais e estaduais, não alcançam. Eles estão livres e se sentem autorizados a “caçar indígenas” como se animais fossem. Nada os afeta, nada os impede, nem mesmo os desembargadores e juízes que compõem o comitê de conciliação de conflitos da Justiça Federal, que andaram pelo Paraná, buscando o apaziguamento, foram respeitados. A resposta foi essa, atacar à noite pessoas indefesas e desarmadas.

E no Supremo Tribunal Federal, com enorme desfaçatez, o ministro Gilmar Mendes, comanda uma comissão de conciliação para discutir a tese do marco temporal, a mesma que o Supremo rejeitou em setembro de 2023. Ou seja, os direitos indígenas são usados e barganhados pelos de cima o tempo todo, enquanto isso, avalizam a violência sistemática contra os corpos e almas nos territórios.

O Conselho Indigenista Missionário, Regional Sul, denúncia estas manobras políticas e jurídicas instaladas contra os povos indígenas no país. A Comissão de Conciliação não passa de uma enorme e gritante farsa, montada para enganar os povos indígenas e avalizar a desterritorialização e a relativização dos seus direitos. Pactuar com a farsa é negligenciar ou avalizar a violência contra meninas, mulheres e homens que apenas requerem o cumprimento da Constituição Federal, promovendo a demarcação de suas terras.

Chapecó, SC, 28 de agosto de 2024.

Conselho Indigenista Missionário
Regional Sul

 

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