Falta de água nas áreas indígenas, uma omissão do governo que aniquila com as forças das comunidades

Por Roberto Liebgott, Cimi Sul-Equipe Porto Alegre.

Durante a primeira semana de setembro, do ano de 2024, foram várias as queixas e denúncias de falta de água nas comunidades indígenas, especialmente aquelas que vivem em áreas de retomadas.

Na Tekoa Karandaty, Retomada Mbya Guarani de Cachoeirinha, as mais de 20 famílias passaram vários dias sem um pingo de água para o consumo. Foram OBRIGADOS a usar água de córregos contaminados para suprir uma necessidade vital. Como viver sem água? Essa pergunta deve ser feita a cada segundo aos responsáveis pelas ações e serviços em saneamento básico da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI). A outra pergunta: até quando eles vão manter essa triste e dolorosa realidade? Por que negligenciam tanto esse serviço básico essencial?

No caso de Cachoeirinha, depois de muitos apelos, a comunidade recebeu, de forma provisória, água potável, que deve durar dois ou três dias. Surge outra pergunta: quais medidas estão sendo adotadas para garantir que esse serviço seja continuado?

Já na Tekoa Pekuruty, em Eldorado do Sul, a comunidade Mbya Guarani vive nas margens da BR 290, Kms 132 e 133, onde passam por um processo insanável de violência continuada, também por conta da negligência do poder público federa, que não implementa o componente indígena do Plano Básico Ambiental, elaborado em decorrência da duplicação da rodovia que impacta suas vidas. Lá falta tudo. Falta terra, moradia e a escola está ao relento, não há luz e nem material didático. As cadeiras entregues pela secretaria de educação estavam apodrecidas, ou seja, tratam os indígenas como restos, numa flagrante perspectiva de desumanização.

E para agravar a situação, o fazendeiro que possui propriedade próxima ao acampamento indígena, matou o cachorro da comunidade. A impressão que fica é de que o tiro desferido contra cão era para ser neles, nos Mbya Guarani.

Não bastasse tamanha violência, a comunidade se vê obrigada a consumir água de um córrego, absolutamente sujo, embarrado e contaminado pelas lavouras de arroz. Por que eles bebem água do corego? Porque a Sesai não lhes fornece água potável. Na comunidade há uma caixa de água com capacidade para armazenar até 15 mil litros de água. Pois ela encontra-se vazia há mais de uma semana. Esse fato não é isolado e não ocorreu por uma fatalidade. Não, parece que deixá-los sem água é uma rotina de perversão. Passa a impressão que torná-los frágeis satisfaz aqueles que deveriam garantir segurança e assistência aos Mbya.

Nesse caso, da Tekoa Pekuruty, a justificativa da Sesai foi de que a comunidade quer que a caixa de água seja instalada em outro local, que não na beira da estrada. A razão desse pedido vincula-se ao fato de que houve ameaças, feitas aos indígenas – dentro de um ônibus – de que envenenariam a água, já que a caixa está próxima da rodovia.

Por que a Sesai, diante desse fato, não providenciou a reinstalação da caixa de água num local mais seguro?

E, outra vez, não se pode deixar de perguntar: Até quando?

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