Falar de suicídio entre as pessoas LGBTQIA+ é delicado, mas necessário

Falar de suicídio no universo LGBTQI+ é fundamental, assim como de saúde mental e transtornos sociais que têm em suas raízes discriminações e preconceito

Foto: Pixabay

Por Filipa Brunelli.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Trata-se de uma triste realidade que acomete, principalmente, os jovens, e que emite um claro alerta a toda a sociedade brasileira: falar de saúde mental é urgente e necessário.

Sabemos que a maioria dos casos de suicídio está diretamente relacionada a doenças mentais. Em primeiro lugar vem a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias. Desta forma, falar de suicídio é fundamental, assim como de saúde mental e transtornos sociais que têm em suas raízes as discriminações e o preconceito às minorias políticas.

Estamos vendo algum avanço no que diz respeito à temática das doenças mentais, com pautas em torno da problemática do suicídio debatidas com a sociedade.Porém, me incomoda que tal situação ainda esteja apresentada de forma higienista, camuflando a realidade, sem demarcar quem são  as pessoas  suscetíveis a tal violência e a real ação social que os motivou.

Falar de suicídio entre as pessoas LGBTQIA+ é delicado, mas necessário. Não podemos fechar os olhos aos crescentes casos de suicídio entre pessoas LGBT. Desta forma, se torna impossível dissociar tais mortes da LGBTfobia, pois o ato do suicídio para essas pessoas é apenas a consequência de um processo destrutivo iniciado pelo sistema hetero-cis-normativo, que não respeita seus corpos, amores e vivências, inclusive deixando-as às margens da sociedade, sem nenhuma condição de ascensão.

O público LGBT tem seis vezes mais chance de cometer o ato, de acordo com a revista científica americana Pediatrics. Ainda segundo a publicação, o risco de suicídio é 21,5% maior quando LGBTs convivem em ambientes hostis à sua orientação sexual ou identidade de gênero.

Quando falamos em pessoas travestis e transexuais, a problemática se aprofunda de forma exorbitante: uma pesquisa publicada em 2014 pelo Instituto William, de Los Angeles (EUA), estimou que 41% das pessoas trans já tentaram cometer suicídio. Isso é resultado de uma sociedade que tenta enquadrar os corpos na ótica de gênero construída por um padrão hegemônico.

O fato de as pessoas travestis e transexuais terem seus direitos básicos negados, como o reconhecimento de seu nome, de sua identidade, o direito ao mercado de trabalho formal e à conclusão de seus estudos, fora o não acesso às políticas públicas institucionais, projeta neste indivíduo um conceito de não humano, de um ‘subsujeito’, o que desvaloriza a integralidade deste ser e faz que sua vida passe a ser algo facilmente descartável.

A LGBTfobia em nosso país acontece dentro e fora de casa, sendo a principal razão para os suicídios LGBTs. O conceito de padronização de família já é um fator inicial para exercer a cultura hetero-cis-normativa, que se constitui nos lares e nos outros meios sociais, resultando na condução social das crianças ao padrão sexual e reprodutivo, o que podemos chamar de heterossexualidade compulsória, de maneira que esses indivíduos venham a entender que qualquer desvio do caminho apresentado e idealizado por seus familiares seja considerado anormal, imoral e destrutivo.

No Brasil, não há um estudo amplo produzido sobre a sexualidade e suicídio. Porém, basta uma leitura breve das estatísticas para enxergar essa triste problemática. Dessa forma, este artigo convida a refletir sobre o tema para que se possa defender a existência e a integralidade de todas as vidas.

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