Por Roberto Liebgott/Cimi Sul.
Faces e corpos de mulheres indígenas, numa esplendorosa manifestação de espiritualidades, saberes e cores.
Mulheres indígenas do Brasil, de mais de 185 povos,
mobilizaram-se na capital federal
em defesa da Mãe Terra
e de seus filhos.
Pela proteção da natureza em sua integralidade,
exigiram respeito aos direitos fundamentais e
denunciaram a violência institucional.
Seus rostos de mulheres jovens, mães e avós,
expressaram, através de palavras, gestos e ritos, as angústias e esperanças do Brasil indígena.
Com suas espiritualidades, ajudaram a conter,
no sete de setembro, as caravanas dos tiranos e golpistas – os genocidas.
Financiados por agentes do estado,
do agronegócio, das mineradoras, dos garimpeiros e grileiros, todos sedentos pelo lucro fácil e farto.
Invadiriam os poderes constituídos,
mas lá em Brasília estavam as mulheres, oriundas dos territórios imemoriais e,
expressivas, impunham sua coragem, força e determinação.
Evitaram, com suas místicas religiosas, a instalação da barbárie,
do desrespeito às vidas, às liberdades
e aos modos de ser de cada povo.
As mulheres indígenas inspiram projetos de libertação,
contrapondo-se ao machismo,
ao racismo e a homofobia.
Contrapondo-se aos violentadores de corpos,
estupradores,
profanadores e agressores de almas e espíritos.
Denunciam os preconceitos contra seus saberes,
seus costumes, crenças e
suas medicinas tradicionais.
Contra suas práticas culturais,
suas texturas e ornamentos,
contra o feminino em cada uma delas.
A mobilização nacional das mulheres indígenas tornou-se um canal de ligação,
o cordão umbilical, das resistências indígenas, explicitando ternura, amor e sobriedade.
Reafirmaram o compromisso radical, revolucionário,
em outras formas de relação com a Mãe Terra,
com a natureza e entre pessoas e povos.
Nenhuma gota de sangue a mais,
nenhum indígena queimado,
como queimaram Galdino Pataxó Hã Hã Hãe.
Nenhuma mãe deve chorar o filho
emboscado,
torturado,
assassinado.
Não mais violência,
não mais preconceito, não mais desprezo pela vida.
A cosmovisão Yanomami expressa que eles são os pilares de sustentação da terra,
não a deixam desabar,
asseguram sua rotação.
A mobilização das mulheres indígenas,
constitui-se em pilares,
a preservar os direitos originários dos povos
e seu bem viver.
E neste contexto auxiliaram o país,
em sua frágil democracia, a resistir as ameaças de um golpe de Estado.
Os seus corpos pintados, multicores, pluriculturais, entoando cantos, ritos, saberes, alicerçados às ancestralidades, seguraram a terra.
Protegeram o Brasil
e clamam por justiça vindoura,
não ao marco temporal.
Demarcação já!