A ultradireita brasileira está perdida, desnorteada, não sabendo exatamente quem apoiar no conflito entre Rússia e Ucrânia.
Por quê?
Uma parte dela flerta com a extrema direita ucraniana enquanto a outra admira a extrema direita russa.
Quem não se lembra dos bolsonaristas que queriam “ucranizar” o Brasil? Os militantes que desfilavam na Paulista embrulhados na bandeira da Pravy Sektor, grupo neofascista ucraniano?
Quem não se lembra de Sara Winter, líder dos 300 que marcharam com tochas em Brasília, que repetia aos quatro cantos que foi treinada na Ucrânia?
Por outro lado, articuladores e ideólogos da extrema-direita, como Bannon e Dugin, defendem Putin como o líder capaz de enfrentar o humanismo liberal, os direitos humanos e tudo que vem na esteira da modernidade.
Steve Bannon and Erik Prince say we should be supporting Russia because Putin is anti-woke and has no tolerance for LGBTQ. pic.twitter.com/qzHl2TkwxJ
— Ron Filipkowski (@RonFilipkowski) February 24, 2022
Aleksandr Dugin, por exemplo, protagonizou um debate com Olavo de Carvalho que acabou se transformando num livro. A discordância girava, essencialmente, em torno do que era o famigerado globalismo.
O pensamento de Dugin, que já chegou a pedir a morte de todos os ucranianos, é uma mistura insalubre de geopolítica neoeurasiana, ocultismo neonazi, nova direita francesa e perenialismo. Há uma organização dugnista no Brasil, a Nova Resistência, que apoia os russos na Ucrânia.
Inclusive é conhecido o caso de Rafael Lusvarghi, o militante da Nova Resistência que foi lutar em Donbass ao lado de grupos paramilitares russos e acabou sendo preso na Ucrânia. Lusvarghi era frequentador de fóruns neonazi na internet. A NR fez campanha para libertá-lo.
Dugin já esteve no Brasil para debater Julius Evola (o pensador que rompeu com Mussolini acusando-o de trair o fascismo) e foi recebido por militantes da Ação Integralista Brasileira, por Cesar Ranquetat (convidado pelo ex-chanceler Ernesto Araújo para uma banca no MRE).
O etnógrafo Benjamin Teitelbaum escreveu um belo livro mostrando as raízes tradicionalistas (ou perenialistas) de Bannon, Dugin e Olavo. São os três ideólogos de Trump, Putin e Bolsonaro.
Dugin e Olavo, entretanto, tinham suas divergências. Olavo defendia a existência de três frente globalistas: Ocidental, Sino-Russa e Islâmica (Califado). Haja chá de cogumelo, não? Ernesto Araújo cita a tese de Olavo para criticar a visita de Bolsonaro à Rússia.
Outros grupos neonazis pró-Rússua atuam em Donbass. Veja esta postagem abaixo. Ou seja, grupos paramilitares de extrema direita atuam tanto do lado ucraniano quanto do lado russo.
Já Bolsonaro admira Putin pelo seu despotismo despudorado e viril, pela agenda ostensivamente cristã e iliberal. Putin persegue feministas e a comunidade LGBTQIA+. Putin elogiou as qualidades masculinas de Bolsonaro, que publicou a cantada nas suas redes.
Isso explica porque, desnorteada, a direita bolsonarista prefere atacar obsessivamente Biden.
– Palavras do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao término do encontro do BRICS.
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— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) November 17, 2020
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