Instalada no meio de uma comunidade carente no centro do Recife, a estação de metrô Joana Bezerra é uma das mais movimentadas da cidade. Ali, em poucos dias, vão passar milhares de pessoas e turistas com destino à Arena Pernambuco, para assistir aos jogos da Copa do Mundo. Com o burburinho em volta do local, a expectativa de moradores e pessoas que trabalham ao redor do terminal é que haja crescimento da exploração sexual de crianças e adolescentes.
Motorista de táxi no terminal, Afonso acredita que o turismo e as grandes festas aumentam a possibilidade de encontrar jovens nessa situação. “Sou taxista há mais de 18 anos e vejo que a situação dessas meninas não muda. Você as encontra nos mesmos lugares”, revelou.
O problema reflete falta de perspectivas e recai especialmente sobre as meninas da comunidade, diz a líder comunitária Mônica Monteiro dos Santos. Ela conta que às sextas-feiras, em busca de lazer e sobrevivência, as jovens se reúnem em torno da agitação do local e acabam vítimas da exploração sexual. Segundo ela, não são apenas os turistas que se envolvem na prática.
“Ela vai beija o cara e depois pergunta: você não tem R$ 20 para mim? A gente identifica isso, sabe que é exploração, mas muitas delas acham que não é”, completou Mônica. “A maioria das meninas que faz isso é realmente muito carente, de famílias com muitos filhos que não consegue se sustentar”, relatou.“Aqui, são os moradores que se aproveitam. Mas a preocupação é para que o turista que vai vir não as leve embora, o que seria tráfico de pessoas”, alerta. Há ainda casos, segundo a líder, que não envolvem redes de exploração, mas pessoas conhecidas. “São amigas se juntando com as outras que já foram exploradas, uma vai levando a outra”, disse. Para elas, o dinheiro é “presente”.
Uma das estratégias que tem dado certo para enfrentar a exploração sexual é o programa Vira a Vida, do Serviço Social da Indústria (Sesi), que paga uma bolsa de R$ 500 para jovens participarem de cursos. O problema é que são poucas as vagas. No programa, elas se profissionalizam e só saem empregadas. “Elas passam a ter o dinheiro delas e ficam independentes”, disse Mônica.
Para o Conselho Tutelar responsável pela comunidade, os desafios da região são muitos. O principal deles é a falta de educação e de profissionalização, avalia a conselheira Jeanny de Oliveira. “Não temos estrutura nem políticas públicas para a quantidade de jovem que está na comunidade sem fazer nada. Não está tendo nem vagas nas escolas”, contou.
A secretária executiva da pasta, Elizabete Godinho, diz que já entrou em contato com a Secretaria de Educação para que as creches localizadas no entorno de áreas vulneráveis à exploração fiquem abertas, facilitando a ação das equipes de atendimento. “Temos que fazer com que os adultos entendam que lugar de criança não é perto do fogão, da geladeira ou contando dinheiro. O lugar dela deve ser seguro, na casa de um familiar, de um parente ou em uma creche”, disse.
A Secretaria de Direitos Humanos do Recife avalia incluir abordagens de combate à exploração sexual e ao trabalho infantil em áreas de grande fluxo de transporte público durante a Copa. Nos dias de maior movimento, os moradores contam que crianças já são flagradas vendendo bebidas. Para a competição de futebol e para as festas de São João, as crianças que forem encontradas nessas condições pela rede de proteção serão encaminhadas para uma casa de abrigo temporário.
O projeto que deu origem a esta reportagem foi vencedor da Categoria Rádio do 7º Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, realizado pela Andi, Childhood Brasil e pelo Fundo das Nações Unidos para a Infância (Unicef).
Foto: Agência Brasil
Fonte: Brasil de Fato