Exílio*


Poema de Emanuel Medeiros Vieira

Um Atlântico nesta separação:

batido coração segue as ondas de maio.

Desterros além da anistia,

para lá dos poderes.

Velas ao vento,

não bastam os selos,

a escrita crispada.

Queria os sinais da tua pele,

vacinas, umidades, penugens,

pêlos perdidos no mapa do corpo,

o olhar suplicante, soluços.

Jornadas:

missas de sétimo-dia,

retratos arcaicos.

Outro exílio:

sem batidas na boca da noite, armas, fardas, medos,

clandestinidades.

Sol neste retorno:

casa, guarda-chuva no porão, caneca de barro,

álbuns, abraço agregador,

cheiro de pão, gosto de café,

o amanhã junta os o dois nós da memória,

um menino e o seu outro: estou melhor feito vinho velho.

*Poema premiado no Concurso Nacional de Poesias, cujo tema foi “O Mundo do Trabalho”, promovido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná.

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