Por Márcio Resende, RFI.
A revelação de Evo Morales aconteceu na noite desta terça-feira (27) durante um programa partidário da ala kirchnerista “Frente de Todos”, integrante da coligação do governo argentino, em homenagem aos 10 anos da morte do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), de quem Morales era aliado.
“Estamos debatendo (o regresso)”, indicou Evo Morales, antecipando que a rota do retorno será por terra, cruzando a fronteira da cidade mais ao Norte da Argentina, La Quiaca, à localidade boliviana de Villazón.
O retorno à Bolívia aconteceria um dia depois da posse do eleito Luis Arce, candidato vitorioso de Evo Morales nas eleições de 18 de outubro. Seria também na véspera de completar um ano daquele 10 de novembro de 2019, quando o então presidente renunciou ao cargo, após 14 anos de governo. Morales deixou o poder pressionado por uma convulsão social, motivada por denúncias de fraude eleitoral, quando tentava um quarto mandato consecutivo – mesmo depois de um plebiscito negar-lhe essa possibilidade.
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No dia seguinte, 11 de novembro, Evo Morales partiu primeiro ao México e, um mês depois, à Argentina, onde se refugiou e de onde coordenou a campanha do seu candidato. Desde a vitória de Arce, ele tem anunciado que voltará à Bolívia “cedo ou tarde”.
“O povo boliviano não abandonou a revolução democrática popular, mas também não me abandonou”, apontou Morales, numa indicação de que a vitória do seu candidato foi um voto nele.
Convite para a posse
Evo Morales revelou ainda que o presidente argentino, Alberto Fernández, propôs levá-lo de avião quando viajar para participar da cerimônia de posse de Luis Arce em La Paz, no próximo dia 8 de novembro.
“Agradeço a solidariedade do irmão presidente Alberto Fernández que, no jantar que tivemos da terça-feira (20) à noite, propôs me levar até a Bolívia”, contou.
Na Bolívia, a chanceler Karen Longaric, do governo opositor da presidente Jeanine Áñez, informou que Evo Morales será convidado para a posse do seu afilhado político, Luis Arce.
“Vamos convidar todos os ex-presidentes. Vamos convidar o ex-presidente Evo Morales sem nenhum tipo de discriminação de caráter político. Este será um ato democrático, constitucional”, confirmou Longaric.
Regresso épico
A presença de Morales, no entanto, poderia ofuscar o protagonismo de Luis Arce. A entrada pelo Sul da Bolívia até o seu reduto eleitoral, a província de Chapare, ao Norte de Cochabamba, daria um tom épico a uma volta triunfal.
O senador eleito Andrónico Rodríguez, que muitos apontam como futuro herdeiro de Morales, acrescentou que, no dia 11 de novembro, Evo Morales já estará em Cochabamba, de onde partiu ao México.
“Morales chegará no dia 11 a Cochabamba no dia em que saiu. Nesse mesmo dia, ele chegará e pelo mesmo lugar por onde saiu. Será um dia histórico para nós”, informou Andrónico Rodríguez.
“Haverá um grande recebimento. Nós nos concentraremos em Cochabamba para receber o nosso líder histórico”, prometeu.
Na semana passada, durante uma videoconferência com centenas de dirigentes e plantadores de coca das Seis Federações do Trópico de Cochabamba, berço político-sindical de Morales, o ex-presidente pediu que os ‘cocaleiros’ pensassem numa trilha sonora para o momento.
“Queria pedir, irmãs e irmãos, que comecemos a praticar alguma canção para o nosso retorno. Gostaria que começassem a cantar essa canção para quando eu voltar”, pediu Evo Morales.
Desmontando os processos
O ex-presidente disse que retornar à Bolívia “é questão de tempo” e associou a sua volta ao fim dos processos judiciais que o ameaçam de prisão.
“Agora tenho a possibilidade de voltar sem muitos problemas. Todos esses processos vão cair”, afirmou Evo Morales.
Nesta segunda-feira (26), a Justiça Penal boliviana de primeira instância decidiu anular a ordem de detenção e o processo contra Evo Morales nos casos de sedição e terrorismo. A decisão abriu as portas para Morales retornar sem ser preso.
Para o ex-presidente, os processos por fraude eleitoral, sedição, genocídio, terrorismo, financiamento e incitação pública a delinquir e até estupro são parte de uma “guerra suja” do atual governo de Jeanine Áñez.