Com Loubna Anaki, correspondente da RFI em Nova York.
Na onda do movimento #blacklivematters, o caso de Arbery se tornou emblemático. No dia de sua morte, Gregory e Travis o perseguiram em uma caminhonete, enquanto Bryan estava em seu próprio veículo e filmou a cena. Após uma discussão, Travis McMichael abriu fogo e matou o rapaz de 25 anos.
Os três homens alegam que confundiram o corredor com um ladrão que era ativo na região e utilizaram, para a própria defesa, uma lei da Geórgia que permite aos cidadãos comuns efetuarem detenções. Gregory McMichael, um policial aposentado, trabalhou durante vários anos para os promotores locais.
Por conta dessa proximidade, a polícia não prendeu nenhum suspeito durante dois meses. A Justiça local tentou abafar o caso até o vídeo do drama ser divulgado pelo advogado de Arbery de forma massiva nas redes sociais. As imagens geraram polêmica e provocaram diversas manifestações. Sob pressão, a polícia acabou prendendo os três acusados.
A morte de George Floyd, algumas semanas depois, com o pescoço pressionado pelo joelho de um policial branco em Minneapolis, provocou a retomada de um debate nacional sobre a justiça racial e a violência policial contra os afro-americanos. Arbery se tornou um dos símbolos dos protestos nacionais do movimento Black Lives Matter. “Um homem negro deveria poder correr sem temer por sua vida”, tuitou o presidente Joe Biden no aniversário da morte de Arbery.
Governo Biden não avançou na luta contra violência racial
O processo que teve início nesta segunda-feira pode aumentar a tensão na Georgia, que ainda enfrenta seu passado racista. A um ano das eleições de meio de mandato, o presidente democrata Joe Biden não avançou na luta contra a violência racial sistêmica, principalmente da parte de policiais, como explicou à RFI Corentin Sellin, professor de História e especialista da política americana.
“O Congresso tinha iniciado negociações e, no ano passado, Joe Biden tinha pedido aos parlamentares que votassem uma legislação para marcar a data do aniversário da morte de George Floyd. Nada aconteceu. Pior: há algumas semanas, as negociações bipartidárias, comandadas por dois senadores afro-americanos, fracassaram”, diz.
“Isso é mais uma prova da teimosia de Biden: querer obter um consenso com os republicanos. Mas será que esse consenso é possível, levando em conta as diferenças entre democratas e republicanos, sobretudo em relação à violência policial? Não há nenhum avanço notável”, ressalta.
Vítima estaria desarmada
A seleção do júri deve demorar vários dias. Os acusados provavelmente alegarão que agiram em legítima defesa e que Arbery resistiu à detenção legal.
Os promotores insistirão que a vítima estava desarmada e que nada a vinculava a uma série de roubos que aconteceram no bairro onde praticava corrida. Ben Crump, um advogado de direitos civis que representou várias famílias afro-americanas em casos de violência, declarou ter a esperança de que o “tribunal faça justiça” a Ahmaud e sua família.
“Se estes assassinos escaparem sem consequências, isto enviará a mensagem de que o linchamento de homens negros em 2021 não acarreta nenhuma punição”, disse Crump. Desde a morte de Arbery, a Geórgia aprovou uma lei que impõe penas adicionais por crimes motivados pelo ódio racial, gênero, orientação sexual e outras características da vítima.
A mãe de Arbery iniciou um processo civil separado para exigir o pagamento de um US$ 1 milhão contra os três suspeitos, mas também contra as autoridades locais, acusadas de tentar acobertar o caso. Um dos promotores locais, Jackie Johnson, também foi acusado no mês passado por violar seu juramento ao cargo e supostamente obstruir a investigação da morte de Arbery.
William Bryan, Gregory e Travis McMichael também enfrentam acusações federais separadas por crimes de ódio e um julgamento está programado para fevereiro.
(AFP e RFI)
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