Estudo identifica eco-ansiedade em estudantes da UFSC e outras cinco universidades públicas

Imagem: ejaugsburg por Pixabay

Por Mayra Cajueiro Warren, para Agecom/UFSC.

A saúde mental de estudantes das áreas de Biologia de seis universidades públicas foi tema de um estudo publicado na terça-feira, 6 de setembro, no periódico internacional PLOS Biology. A pesquisa identificou um alto número de estudantes afetados pelo medo do colapso ambiental, conhecido como “eco-ansiedade” ou “luto ecológico”.

Esse sentimento é uma nova e crescente fonte de sofrimento mental, que pode afetar particularmente a próxima geração de biólogos conservacionistas, segundo explicam os pesquisadores, que oferecem, no artigo, estratégias de cuidado e empatia que educadores podem utilizar para ajudar a prevenir o agravamento da saúde mental dos alunos.

A pesquisa coletou informações por meio de um questionário de saúde mental respondido anonimamente por 250 estudantes de graduação em Ciências Biológicas durante o mês de março de 2022. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi uma das participantes, além das universidades federais de São Carlos (UFSCar), Pernambuco (UFPE), Juiz de Fora (UFJF), Piauí (UFPI) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).

A maioria dos entrevistados considerou sua saúde mental recente como ruim, e afirmou que os problemas ambientais a afetam em algum grau. A maioria dos entrevistados disse que estudar e entender os problemas ambientais piorou sua saúde mental. No entanto, apesar do pessimismo geral, muitos entrevistados ainda se sentiam otimistas em trabalhar como biólogos e a maioria estava animada para buscar soluções para os problemas ambientais. Além disso, a maioria dos alunos afirmou que a opinião pessoal de seus professores influencia em algum grau suas perspectivas para o futuro.

O artigo tem autoria principal do pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Vinícius de Avelar São Pedro, e co-autoria de dois pesquisadores egressos do curso de graduação em Ciências Biológicas da UFSC – Larissa Trierveiler Pereira e Juliano Marcon Baltazar

O papel dos educadores

A pesquisa oferece uma série de técnicas ou ações sugeridas aos educadores para ensinar Biologia da Conservação e ciências ambientais com foco em preservar a saúde mental dos alunos.

Os pesquisadores se basearam em suas próprias experiências em sala de aula e conversas com alunos de graduação para essas estratégias, que incluem dicas como evitar ser negativo demais; destacar as conquistas que ocorreram nos últimos anos, exemplos positivos e estudos de caso; apontar soluções teóricas para os problemas, incentivando que os alunos se envolvam em futuras pesquisas; ouvir os alunos, deixar que expressem suas opiniões; utilizar ferramentas como artes, textos literários, poesia, música, pintura; evitar colocar peso excessivo sobre os alunos com afirmações como “o futuro da humanidade depende de sua geração”; escolher com cuidado as palavras, entre outras. (leia a relação completa de estratégias ao final desta notícia)

O estudo sugere que educadores pesquisem sobre o assunto da eco-ansiedade e a saúde mental dos jovens, além de olhar para si mesmo e sua própria saúde mental.

“A saúde mental dos jovens é uma questão séria e urgente. Encorajamos os colegas a pensar sobre as sugestões acima para o ensino de biologia da conservação e a levantar uma discussão dentro de suas instituições e departamentos”, escrevem os autores.

A pesquisadora Larissa Trierveiler Pereira afirma que o trabalho foi inspirado em problemas observados nas salas de aula da UFSCar e no relato de colegas de outras instituições.

“Foi um estudo criado justamente para levantar essa discussão sobre a necessidade de ter um certo cuidado ao abordar com os alunos os problemas ambientais. Foi pensando em estimular a empatia e o cuidado. Vemos que os alunos não estão bem, por isso precisamos falar de perspectivas futuras e de como os estudantes, como a geração futura, podem ajudar. Estamos no mês dedicado a falar de saúde mental, o Setembro Amarelo, então é muito oportuno”, salienta Larissa.

A professora do Departamento de Botânica, do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da UFSC, Maria Alice Neves foi uma das docentes que divulgou o questionário aos seus alunos durante o mês de março. Segundo ela, as estratégias propostas foram importantes porque consideram o impacto que professores têm, às vezes sem saber, sobre a carga de ansiedade dos estudantes. A transferência de informações com honestidade e empatia ajuda a aliviar esse estresse. Maria Alice disse que divulgou para seus alunos por perceber como as aulas à distância e a falta de saídas de campo durante a pandemia afetaram o comportamento das turmas, que se tornaram menos participativas. “Apesar do crescente pessimismo entre estudantes preocupados com a devastação de ambientes naturais, é a preservação da natureza e estar em contato com ela que ajuda muitas pessoas a melhorarem a saúde mental”, acrescenta.

Estratégias e ações sugeridas (tradução livre do artigo original)

  1. Evite ser muito negativo. Procure usar uma abordagem equilibrada ao lidar com temas críticos, apontando soluções entre os achados negativos inerentes à disciplina. Tente destacar as conquistas dos últimos anos. Mesmo que sua própria perspectiva seja pessimista, dê aos alunos a chance de escolher seu próprio ponto de vista.
  2. Sempre que possível, tente destacar exemplos positivos e estudos de caso, de preferência no final de uma aula, para deixar uma mensagem final positiva.
  3. Quando não houver exemplos positivos, tente terminar a aula apontando soluções teóricas para esse problema. Esforce-se para mostrar aos alunos que essas podem ser questões interessantes para futuras pesquisas ou engajamento. Lembre-se que muitos estudantes escolhem uma carreira em ciências para ajudar a resolver problemas ambientais.
  4. Ouça os alunos. Crie oportunidades para que eles expressem suas opiniões e pensamentos sobre o tópico que está sendo ensinado. Sinais de pessimismo extremo ou desesperança recorrente podem indicar a necessidade de abordagens mais cautelosas. Em caso de dúvida, procure aconselhamento de especialistas em saúde mental.
  5. Procure propor trabalhos e atividades em que os alunos tenham de encontrar soluções práticas para as questões ambientais. A aprendizagem baseada em problemas pode ajudar a melhorar a autoconfiança em futuros profissionais ao mesmo tempo em que torna a perspectiva de soluções mais acessível.
  6. A biologia da conservação pode se misturar com outros campos, incluindo as artes. Como complemento ou alternativa às avaliações e ao material didático, considere o uso de textos literários, poesia, música ou pinturas. As artes criativas podem ser uma ferramenta valiosa para reduzir o estresse em alunos e educadores.
  7. Tente não colocar peso excessivo nos ombros dos alunos. Evite passar a mensagem de que o futuro da humanidade depende exclusivamente de sua geração. Em vez de dizer coisas como “O peso da crise ambiental é todo seu”, tente mostrar que “nós, profissionais do meio ambiente, podemos ajudar a mudar esse cenário”.
  8. Considere se apresentar certas informações perturbadoras é realmente necessário. Dependendo do humor geral dos alunos em um determinado momento, considere suavizar ou omitir dados catastróficos. Nesse caso, não se esqueça de avaliar e mitigar possíveis perdas por omissão aos objetivos educacionais.
  9. Escolha suas palavras com cuidado. Evite usar palavras, expressões ou figuras de linguagem que sugiram o fim da linha para certas questões de conservação.

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