Por Raul Fitipaldi.
Estou de mal com a morte.
Essa morte precipitada, essa neomorte.
Não é a morte que espera paciente os ciclos e as estações.
Nem essa outra piedosa com a dor.
Não é a morte heroica que se resiste a ela mesma,
que se irmana com a vida e espera até mais não poder.
Estou de mal com essa morte mesquinha.
A morte assecla dos genocidas.
A parca sem pudor que arrasa tudo.
Ébria de urgências que asfixia, que goza da tortura.
Essa morte insaciável, promíscua, insensível.
Morte ignóbil, inóspita morte que nos rouba os amigos,
os gênios cotidianos, os jovens por despertar,
os velhos previsores, as almas generosas.
A tal razão final da vida, ainda que extrema.
Estou de mal com essa morte que mata por matar.
Esta que desgarra cada minuto de cada dia.
Maldita que entornou as janelas e assassinou o Sol e as estrelas.