Eu e meus colegas de coluna escrevemos aqui há mais de dez anos. Neste período, mais de 200 mil km² de floresta amazônica foram devastados, o equivalente ao território da Grã-Bretanha. Testemunhei todas as cúpulas sobre Meio Ambiente enroscadas porque os países nunca estiveram dispostos a abrir mão de seus interesses. Vi tentativas de acordos mundiais, como o Protocolo de Kyoto, serem ignoradas por países-chave. Mas também vi esses acordos serem sistematicamente descumpridos por nações signatárias. No plano nacional, presenciei mudanças nefastas nas leis para beneficiar setores altamente poluidores, fui testemunha da implosão do Ibama em nome do seu enfraquecimento e vi ministros e presidentes pisoteando a Lei em nome do crescimento econômico a qualquer custo.
A consciência ambiental parece ter regredido neste início de milênio, se é que ela de fato existe. E não apenas no nível de lideranças e governos, mas também no âmbito do indivíduo: para ficar em um exemplo, a porcentagem de pessoas que separam seu lixo e o enviam para reciclagem no Brasil continua ínfima, abaixo de 1%, após tantos anos de campanhas e esclarecimentos.
Para a maioria, a questão ambiental parece não passar de mais uma brincadeira, uma ilusão a mais no jogo de manipulação de ideias e ideais no qual estamos imersos. Um entre tantos joguinhos de marketing no qual tanto empresas como governos investem migalhas de tempo e dinheiro apenas para estarem em dia com o que o comportamento politicamente correto do momento exige.
Mas essa brincadeira só é considerada até começar a atrapalhar a marcha do progresso. Quando essa conversa de bicho-grilo atrapalha o caminho de grandes projetos econômicos, ninguém pensa duas vezes: leis, normas, ecossistemas complexos, aldeias indígenas e animais em extinção são atropelados sem a menor sutileza. E tocam-se adiante Belos Montes, Jiraus e Santo Antônios, a despeito das intermináveis listas de irregularidades associadas a estes, entre tantos outros megaprojetos atualmente em execução.
Quando a crise conceitual chega neste ponto, fica difícil construir um artigo sobre “perspectivas para o meio ambiente”, quando a própria ideia do que seria meio ambiente está desestruturada dentro e fora de mim. Talvez sejam os ecos desse recém-ocorrido fim do mundo.
Farei apenas uma previsão: no Brasil, em 2013, nada que seja fundamental ao desenvolvimentismo sob a perspectiva de seus leais defensores terá seu caminho interrompido por nenhuma lei ambiental, clamor popular ou por algum surto de bom senso de alguma autoridade. Porque não parece haver nada que possa se colocar no caminho desse grande deus da atualidade, o crescimento econômico.
Mas essa previsão era fácil, você e todo mundo também já sabiam. O certo é que cada vez fica mais claro que qualquer ideal ambientalista, por mais bem situado que seja, por mais que esteja amparado na lei e no bom senso, sempre acaba perdendo a luta quando atrapalha o caminho daquilo que se convencionou chamar de progresso. O grande pecado hoje, afinal, é interromper o processo de produção. Se há minérios valiosos na Amazônia, tem que tirar, e ponto final. Se para tirar esses minérios precisa de muita energia elétrica, tem que fazer hidrelétrica em Belo Monte. E se tem aldeias indígenas ou espécies ameaçadas de extinção no caminho da hidrelétrica, azar delas. A marcha de destruição não pode ser interrompida por um bando de índios falando no celular que têm perfil no Facebook, ou por bichos e plantas que a gente mal conhece, afinal.
E aqueles que têm coragem de defender a floresta, os rios e mares, são acusados de inimigos do progresso. Os novos inimigos, aqueles que ocuparam o vácuo deixado pelos comunistas. Afinal, o que incomoda os ex-caçadores de comunistas não é o princípio da distribuição de renda. O lulismo dizimou qualquer dúvida sobre o quanto é bom para o capitalismo erguer os miseráveis à classe média. O que incomoda mesmo é interromper a marcha da destruição.
Fonte: Correio da Cidadania.