‘Estamos importando milícia’, analisa movimento negro de São Paulo sobre chacina provocada pela PM no Guarujá

Movimentos sociais pedem suspensão imediata da 'Operação Escudo', que já matou 16 pessoas na Baixada Santista

Protesto nesta quinta-feira (3), no Centro de São Paulo, contra Operação Escudo, que teve início na última sexta (28) na Baixada Santista e já matou 16 pessoas – Junior Lima (@xuniorl)

Por Celimar de Meneses e Lucas Weber, Brasil de Fato.

Os movimentos sociais ligados à luta antirracista se juntaram na noite desta quinta-feira (3) para protestar contra a ação policial na Baixada Santista desde a deflagração da Operação Escudo, iniciada na semana passada. O movimento negro exige a suspensão imediata da operação e a investigação das mortes provocadas pela polícia. Até agora, foram contabilizados 16 mortos.

A operação teve início na última sexta-feira (28), como resposta à morte do soldado Patrick Reis, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), em 27 de julho. No primeiro final de semana de operação, os PMs mataram 10 pessoas em comunidades do Guarujá (SP) e de Santos (SP). Apesar dos números, a ação dos policiais contou com o apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

“A gente é muito solidário aos familiares da vítima do policial que foi executado no dia 27, mas a gente acha desproporcional que os territórios periféricos convivam com esse medo diante dessa operação que já vitimou mais de dez pessoas. Então essa manifestação é pra que acabe essa operação, que o Ministério Público possa investigar essa operação”, resumiu a coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), Simone Nascimento.

Para Regina Lúcia dos Santos, coordenadora estadual do MNU, a polícia de São Paulo está “importando o modelo de milícia”. “Com o escuso nome de ‘Operação Escudo’, na verdade, o que está acontecendo lá são execuções sumárias. O estado brasileiro não pode ter esse direito sobre a vida dos seres humanos”, protestou.

População com medo

Segundo moradores da Baixada Santista, o clima desde que a operação foi deflagrada é de terror. A estudante Maria Eduarda Corrêa conta que a escola onde estuda suspendeu as aulas por uma semana porque não consegue garantir a segurança dos estudantes.

“Tem carro de polícia correndo por toda parte, gente com arma. O teatro também foi fechado pra proteger os alunos, a gente foi dispensado”, explica. A aluna ainda conta que tem recebido fotos de pessoas mortas. “Famílias perdendo filho, irmão, neto, pai. Está bem tenso”, resume.

O auxiliar de enfermagem Alexandre Arruda Paula, que trabalha no Guarujá (SP), um dos município onde acontece a Operação Escudo, narra a execução de um conhecido: “Até onde eu sei, pelos relatos, essa pessoa estava num beco dentro de uma comunidade. Quando ele viu a polícia entrando, ele entrou pra dentro de uma casa. O policial meteu o pé na porta da casa da pessoa, invadiu e exterminou”.

O profissional de saúde explica que as mães estão deixando os filhos na casa de amigos com medo de serem pegos no fogo cruzado. Alexandre define o que os PMs estão fazendo na operação como “extermínio”.

Já para o morador Paulo Roberto da Silva, a violência policial é rotineira nas periferias de São Paulo. “Não posso falar que não surpreende porque a gente tá falando da vida de pessoas, mas a verdade é que [a violência] é rotina, né? Rotina”, reforça. Para o homem negro, desde que o bolsonarismo perdeu poder na esfera federal, o fascismo ficou concentrado em São Paulo.

Edição: Rodrigo Chagas.

 

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