Estados Unidos é bom, Trump que o corrompe? Por Francisco Fernandes Ladeira.

Os mesmos articulistas que cinicamente se mostram perplexos com os discursos de Trump, duas décadas atrás, apoiaram a invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos e compraram o falso argumento de George W. Bush para intervir no Iraque (as supostas armas de destruição em massa).

Por Francisco Fernandes Ladeira.

Mal o ano começou, os noticiários internacionais da grande mídia já bombardeiam o público com suas manipulações habituais. Sobre a Venezuela, como de costume, foi reverberada uma fake news. A mentira da vez é a detenção da líder da oposição de extrema-direita, María Corina Machado.

Já em relação aos Estados Unidos, a estratégia de manipulação consiste na personalização da política, demonizando o presidente eleito, Donald Trump, e minimizando o histórico expansionista de Washington.

Nos últimos dias, o republicano que, em breve, reassumirá a Casa Branca, ameaçou tomar o Canal do Panamá, apossar-se da Groenlândia, renomear o Golpe do México e anexar o Canadá. Bravatas à parte, não se trata de uma surpresa, haja vista o histórico bélico e intervencionista da maior potência imperialista da atualidade.

Submissa aos ditames de Washington, na grande mídia, evidentemente, as ameaças de Trump não poderiam ser percebidas como uma histórica “política de Estado”, mas como “política de governo”. Ou seja, foi noticiada como uma prática de ocasião, creditada exclusivamente à personalidade excêntrica de Donald Trump. Linha editorial similar também é adotada em relação a Netanyahu e Israel.

Assim, os mesmos articulistas que cinicamente se mostram perplexos com os discursos de Trump, duas décadas atrás, apoiaram a invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos e compraram o falso argumento de George W. Bush para intervir no Iraque (as supostas armas de destruição em massa). Do mesmo modo, a mídia hegemônica se calou diante dos bombardeios à Líbia durante o governo Obama. Além disso, há o apoio da Casa Branca ao genocídio do povo palestino.

O que Trump fez, diferentemente de seus antecessores, foi apenas traduzir em ameaças o que os outros sempre fizeram na prática. Ele só desnudou o Império, o que é inadmissível para a grande mídia, pois os Estados Unidos sempre são vendidos nos noticiários internacionais como terra da liberdade e da democracia.

Se formos levar em conta o primeiro mandato trumpista, percebemos que a retórica agressiva não se traduz em ações concretas. Trump fala mais do que faz. É o típico cão que ladra e não morde. Essa política externa menos intervencionista e o protecionismo econômico, em última instância, colocam Trump em uma espécie de ala secundária do imperialismo ianque. Isso explica sua representação negativa na grande mídia.

Enfim, parafraseando Rousseau, para os maiores grupos de comunicação do país, o recado é claro: “Estados Unidos é bom, Trump que o corrompe”. No entanto, invertendo a clássica premissa de Jean-Jacques, podemos dizer que os Estados Unidos são inerentemente maus, Donald Trump só confirma isso com palavras.

Francisco Fernandes Ladeira é Doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Licenciado em Geografia pela Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac). Especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestre em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

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