Por Francisco Fernandes Ladeira.
Em janeiro, escrevi um artigo aqui no Desacato, sobre como a grande mídia, em seus noticiários internacionais, utiliza o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como bode expiatório. Nessa linha editorial, todos os pontos controversos da agenda externa estadunidense não são vistos como “política de Estado”; mas como “política de governo”. Daí a provocação: “Estados Unidos é bom, Trump que o corrompe?”.
Desde então, dois momentos de Trump foram bastante destacados nos noticiários: o projeto de transformar a Faixa de Gaza em uma espécie de “Riviera do Oriente Médio” e o bate-boca na Casa Branca com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
No dia 26 de fevereiro, Trump compartilhou em suas redes sociais um vídeo, gerado por inteligência artificial, em que Gaza (sem os palestinos) é transformada em um complexo de resorts. Na mídia brasileira, foi noticiado que “a proposta de Trump causou forte indignação entre a comunidade internacional”. Evidentemente, trata-se de algo repugnável. Aliás, como tudo que se relaciona ao genocídio do povo palestino.
No entanto, o discurso midiático oculta que esse projeto macabro para a Faixa de Gaza não é obra exclusiva de Trump. Antes de o republicano assumir seu segundo mandato na Casa Branca, o governo de Israel, com o aval de seu parceiro, Estados Unidos, já tinha um plano para o enclave palestino – intitulado “Gaza 2035” –, com a construção de arranha-céus e uma ferrovia, lembrando a configuração urbana de Dubai e de outras regiões futuristas que têm sido erguidas na Arábia Saudita.
Já a humilhação pública sofrida pelo presidente ilegítimo da Ucrânia na Casa Branca foi representada na grande mídia a partir de uma lógica maniqueísta e personalista: de um lado, o “malvado” Trump; de outro lado, o “bonzinho” Zelensky.
Uma análise minimamente sensata conclui que o corte da ajuda estadunidense à Ucrânia – em sua guerra contra a Rússia, a serviço da Otan – é aquilo que Washington sempre fez com os “idiotas úteis”, a partir do momento em que não são mais necessários. Já a cobiça do governo Trump sobre os recursos naturais ucranianos é só mais um capítulo do histórico da grande potência imperialista em relação às riquezas de territórios alheios. Como diz um milenar provérbio: “não há nada de novo debaixo do sol”.
Portanto, lembrando o que escrevi no texto anterior, os Estados Unidos, enquanto potência imperialista, são inerentemente maus, independentemente do inquilino da Casa Branca. A diferença é que os democratas atacam outros países sob o slogan da “diversidade”. Trump, por sua vez, como bem frisou o professor Wilson Ferreira, é o “império sem filtro”.
Francisco Fernandes Ladeira é Doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Licenciado em Geografia pela Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac). Especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestre em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).
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