Estado Islâmico x Estado de Israel: entre convicções e melindres

Por Jair de Souza.

Queria dar início a este singelo texto trazendo de volta à memória excertos dos pensamentos de dois grandes filósofos contemporâneos que, pelo prestimoso papel que prestaram a certos setores sociais são por estes muito reverenciados. Em razão da grandiosidade de suas figuras e por serem muito conhecidos e amados nos círculos já referidos, não será preciso explicitar seus nomes, os quais, de todos modos, serão imediatamente reconhecidos.

O primeiro desses pensadores, por ter se consagrado como um ilibado e justo perseguidor da verdade e da justiça, ao justificar suas ações visando aplicar merecida condenação a um certo vilão, exibiu um PowerPoint e proferiu uma sentença que dizia mais ou menos o seguinte: “Não disponho de provas para corroborar a justeza da condenação dessa pessoa, mas tenho convicção mais do que suficiente para garantir sua validade”. E, como deveria ter sido, suas convicções foram plenamente aceitas, pelo menos no seio da grande mídia corporativa de nosso país.

O outro grandioso filósofo a quem vamos recorrer era um sábio, grande conhecedor das leis e, mais ainda, um certeiro aplicador da justiça. E, certa vez, ao saber que o nome de um conhecido figurão tinha sido detectado em coisas não muito lícitas, não vacilou em fazer uso de toda sua sapiência jurídica e externar o seguinte pensamento: “Em razão de que a tal pessoa flagrada em atividades condenáveis é, na verdade, um potencial aliado para nossas causas, não convém que melindremos com a mesma”.

Então, antes de prosseguir, vamos reforçar os dois principais pontos que deveriam nortear nossa compreensão da matéria que vamos abordar nesta oportunidade: 1) vamos avaliar o peso de nossas convicções e 2) vamos estimar a importância de não criar dificuldades para aqueles que podem nos ser úteis.

Agora, caindo de sola no assunto, há poucos dias o mundo se viu chocado com as cenas ocorridas em um centro comercial da cidade de Moscou, na Rússia. Nas mesmas, pudemos observar como um grupo de homens irromperam no recinto com armamento pesado em mãos e começaram a disparar indiscriminadamente a todas e quaisquer das pessoas que pudessem ser captadas por eles. Hoje, sabemos que o número de mortos chegou a 144, fora as centenas de feridos que poderão elevar ainda mais esta cifra.

Imediatamente, os grandes meios de comunicação começaram a nos informar que havia sido uma ação de um tal Estado Islâmico, também conhecido por seu acrônimo de ISIS. Caramba, Estado Islâmico, o que vem a ser isso. Deve ser coisa do Hamás, não é mesmo?

Bem, ao buscar informações sobre o dito cujo, ficamos sabendo que as vítimas preferenciais do tal Estado Islâmico são cidadãos, países e instituições islâmicas, mais de 80% delas na verdade. Também constatamos que o tal grupo terrorista islâmico nunca atacou a nenhum alvo relacionado com o Estado de Israel, nem dentro de Israel e nem fora.

Por outro lado, também tomamos conhecimento de que o Estado de Israel, que tem se caracterizado por assassinar a seus opositores islâmicos por todo lado e em quaisquer países, nunca tomou nenhuma atitude para confrontar o tal Estado Islâmico. A bem da verdade, quando houve envolvimento das forças israelenses nas proximidades de onde também estava agindo o ISIS, isso se deu mais no sentido de facilitar o trabalho dos jihadistas do que em confrontá-los. Os acontecimentos na Síria e no Iraque servem para ilustrar o que acaba de ser exposto.

Por incrível que possa parecer, a mais terrorista das ditas organizações jihadistas, o Estado Islâmico, parece ter total confluência de interesses com o Estado de Israel na hora de escolher a quem aniquilar. Suas vítimas são quase sempre adversários do Estado sionista, aqueles a quem o próprio Estado sionista desejaria eliminar.

Claro que, numa situação como esta, nos vem à mente a sabedoria exposta pelos dois filósofos mencionados no início deste texto, e somos tentados a nos fazer as seguintes indagações:

1) Partindo da convicção de que as atividades do Estado Islâmico sempre favorecem os interesses do Estado de Israel, poderíamos dizer que o primeiro é cria do segundo?

2) Será que o Estado de Israel não se dedica a combater o Estado Islâmico em razão de que não valeria a pena melindrar com um aliado prático de tanta utilidade?

No vídeo deste enlace (https://www.dailymotion.com/video/x8wfopg ; https://youtu.be/1WXA7vHqx38 ) talvez encontremos algumas respostas para as difíceis questões que nos estão afligindo.


Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

 

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