Espiritismo, evolução e política

Imagem: Antônio Augusto Bueno

Por Désceo Machado, para Desacato.info.

Escuto as emanações, sintonizo ondas espirituais e respiro. Lá das profundezas da iluminura, lendo o livro “Brasil, coração do mundo, pátria e Evangelho”, escrito pelas mãos de Chico Xavier, conduzido pelo espírito de Humberto de Campos, o espírito luz anuncia aos espíritas do mundo e do Brasil que a história não é uma evolução para a paz. A paz da eternidade encontra-se através do tempo e não no fim dos tempos, a paz da eternidade pode ser encontrada pelo homem no seu ciclo vital espiritual, mas a paz da eternidade pode passar longe dos destinos históricos da vida espiritual da comunidade de seres humanos. Quantas hordas de espíritos das trevas continuam a se arrastar pela existência e não evoluir senão naquilo que há de pior: na maldade e no sadismo? Gerações e gerações de seres animalescos e covardes, pelo uso de armas ou pela condição de força bruta, gerações e gerações continuam a morrer e renascer sem um traço qualquer de evolução, o que pode se repetir até a destruição completa de nossa espécie.

O espiritismo não pode ser usado para justificar o mau, para validar as ações de violência e covardia. O centro espírita e a doutrina espírita não servem para purificar corpos manchados de violência e sangue. Se tornou lugar comum usar histórias espíritas para sugerir que aquele que pratica um ato de violência está contribuindo para a purificação da vida daquele que foi violentado. Um homem armado, que pelo excesso mata outro, intervém sempre negativamente na existência. Não há falar que a violência perpetrada foi a mão-de-Deus e que aquele que pratica a violência cumpriu o que estava escrito, que foi um agente do destino. O destino está na mão de cada um, e cada qual, como prega a doutrina espírita, deve ocupar-se da sua evolução espiritual, da sua paz interior, do cultivo do amor incondicional. É uma ilusão que causa sofrimento e involução pensar que em algum momento da existência vamos evoluir, de forma natural, sem que tenhamos que empenhar nossa ação e nosso amor.

O espiritismo não é doutrina para defender os ricos dos pobres. Não é pelo asseio e bem vestir dos homens e mulheres que tem frequentado centros espíritas que se percebe a sua evolução espiritual. Não é por suas profissões de elite que se identifica um espírita: os médicos espíritos de luz não são espíritos de luz por serem médicos. O cuidado e o bem dedicados aos outros não é exclusividade de médicos, os quais, aliás, na sociedade brasileira, são pagos a preço de ouro. A doação, o cuidado e o amor ao próximo são mais vivos entre aqueles que não tem instrução e que praticam o bem a partir de muito pouco. É uma ilusão acreditar que a massa dos excluídos é a massa dos seres não evoluídos e que o espiritismo serve para legitimar o poder espiritual de uma elite.

O espiritismo está isento de preferências políticas, mas não está isento de advertir a todos sobre o mal que envolve as práticas de violência e intolerância, – e não se engane, busque saber quem são aqueles que de verdade sofrem violência, pois os homens tem essas habilidades de torcerem as palavras para preservarem seus bens e seu status. O espiritismo precisa orientar os homens e as mulheres para encontrar soluções que agreguem sempre os mais desfavorecidos, para evitar o uso da força e da covardia. A evolução espiritual não é uma garantia nem é o destino de todos, pois o homem tem o livre arbítrio para viver muitas existências como um ser desamparado, tenebroso e convulsivo, e não há remédio no espiritismo para isso, senão no próprio livre arbítrio: o remédio está na força de cada um romper o ciclo do desamor e da violência.

 

Thiago de Castilho SoaresDésceo Machado é repórter em Florianópolis.

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