O Grupo Reverso apresenta o espetáculo teatral Ignorãça, com direção de Jussara Xavier, realizado na (in)disciplina (des)Montagem Teatral, Licenciatura em Teatro, CEART, UDESC, 2015, nos dias 31 de outubro, 1 e 2 de novembro, às 20h, no Espaço II, do Centro de Artes (Ceart) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Entrada gratuita. A distribuição de senhas acontecerá uma hora antes da apresentação, espaço sujeito a lotação.
POR UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO
Ignorãça é uma grafia inventada pelo poeta mato-grossense Manoel de Barros (1916-2014). A palavra não tem sentido negativo, mas positivo, pois para o autor, a criação começa na própria ignorância. Partir de uma realidade que ignora pré-conceitos e significados para (re)colocar a pergunta. Querer “avançar para o começo”, ele diz. Trata-se de deslocar a representação da realidade, desejar o dessaber, para notar o mistério.
Esta montagem não é sobre a poesia de MB, mas uma tentativa de explorar sua lógica de experimentação no corpo e na cena. Desconhecer; desinventar (dar as coisas outras funções); repetir até ficar diferente; mudar a função do verbo, fazê-lo delirar (escutar a cor, desenhar o cheiro); desarrumar; constituir uma nova temporalidade; produzir novos comportamentos.
Aqui, ignorância é uma condição particular de conhecimento. É um estado de ser como modo de desfrutar a vida, de recuperar o sentido de nossos movimentos rotineiros, de tentar remover os gestos anestesiados e mecânicos para voltar a enxergar, ouvir, falar, tocar, caminhar, respirar. Não basta fazer, é necessário converter cada ação em experiência.
“Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios” (MB). O prefixo “des” não tem sempre o sentido de negação e falta, mas também de reforço e intensidade. Assim, desaprender não significa “não aprender”, mas aprender mais e de um jeito diferente. Desinventar, à exemplo, diz respeito a ampliar a invenção. Desencontrar indica um modo de ambiguidade. O “des” em MB diz respeito a uma desconstrução incessante e radical, um modo de busca pelo originário, pelo essencial e inatingível. Uma tentativa de descoisificar a realidade, renovar o cotidiano e penetrar os encantos do real. – Jussara Xavier
DESUSO
As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis: Elas desejam ser olhadas de azul (MB)
FAZEDORES DE INUTILEZAS
Concepção, direção: Jussara Xavier
Assistência de direção, produção: Thaina Gasparotto
Criação, atuação, produção: Camila Santaella, Elisa Bayestorff, Erik Cáceres Barbour, Gabrielli Veras, Jean Carlo de Castro, Laura Tellechêa Petrone, Luca Atilio, Maurício Kiener, Mikhael Sanchez, Paulina Godtsfriedt
Cenografia e luz: Roberto Gorgati
Paisagem sonora: Dimi Camorlinga
Figurino: Esha Sonia Veloso e Adriana Barreto
Música: A Mulher Barbada – Adriana Calcanhotto
Texto: Écrit avec la langue – Cosima Weiter
Referência: O livro das ignorãças – Manoel de Barros (Record, 1993)
DESBIOGRAFIAS DESIMPORTANTES
Manoel: menino que carregava água na peneira
Jussara: apaixonada por Manoel, faz peraltagens com corpos
Thaina: abastada de olhos, é rica em incompletude
Dimi: desarruma sons e compõe silêncios
Roberto: descobridor de insignificâncias, é ligado em despropósitos
Camila: não tem medo de ser e nunca come chiclete de coco
Elisa: pequena leoa escritora e devoradora de brigadeiros
Erik: faz questão de ser com k e ama doces estranhos coloridos que ainda não comeu
Gabi: quase-médica, pertence a vida de fazer imagens extraordinárias
Jean: guardador de invencionices, escapa para ser outros
Laura: grande leoa que distribui generosidade e identifica podres
Luca: homem que aparece em vestígios, é boniteza de ampliar a cena
Maurício: cai como folha, engole graça e nunca para de dançar
Mikha: sábio escorredor de perguntas e apanhador de ventos
Paulina: delicadeza que amanhece de madrugada para servir
Quando:1 e 2 de novembro, às 20 horas
Onde: Centro de Artes (Ceart), Udesc
Endereço: Av. Madre Benvenuta, 1907 – Itacorubi
Quanto: Gratuito
Fonte: Calendário Floripa