Por Raul Fitipaldi.
Bom, Líbia será invadida. A oposição pede que seu próprio território seja bombardeado; uma oposição algo diferente das outras, as prontamente esquecidas do Egito, Tunísia, Barein, Iêmen, que provavelmente já se tornaram países revolucionários, com plena distribuição da riqueza, uma eleição a cada semana e onde as mulheres já vão aos templos de mini-saia e os homens têm seu happy hour com Cuba Libre e Martini on the Rock. Todos cristãos, brancos, capitalistas e messiânicos. Todos ocidentais.
Quando comece a invasão na Líbia assistiremos com paz de espírito democrático as luzinhas natalinas que caem das bombas inteligentes massacrando crianças e velhos, animais e museus. Lindas imagens que nos relembrarão momentos maravilhosos da democracia na Iugoslávia onde o tirano Milosevic ameaçava a tranqüilidade da Puta Europa tão nervosa com sua presença. Parecerá um presente da memória ver cada míssil em racimo se destruindo no meio de Trípoli, despedaçando gente, tão belo como cada doce bomba que se meteu na casa das pessoas em Bassora, em Bagdá, e mais tarde em Kabul. A democracia ocidental nos reserva tantas belezas.
Ao concluir a guerra poderemos ver como enforcam a Al Kadafi ao vivo, pela Fox, pela CNN e com reproduções pela Globo e fotos de capa da Folha e o Estadão. Que delícia esta profissão de jornalista!
A democracia norte-americana terá vencido novamente. O sionismo internacional agradecerá de novo nossa cristã vontade democrática que lhe permite seguir com seu genocídio em cima da Palestina sem nada lhe distrair na região. Serão momentos épicos da humanidade com o relato oficial da ONU e um filme de Hollywood em pleno avanço nos programas bregas de espetáculos. Fascinante.
Entretanto, os intelectuais da esquerda pançuda e bem alimentada, os anti-populistas de carteirinha, os que cagam todos os dias na imagem de Evita, de Chávez, e escondem sem muito sucesso uma pitada de inveja com Fidel, com a memória heróica do Che, diagramam novos versos no tabernáculo da inteligência universitária mais polida e bem comportada, cheirosa, moderada, e defensora das causas mais puras da liberdade e da democracia de ocidente. Aquela democracia que desfrutamos desde 1492, para alegria da gente pacífica e com o pão assegurado na mesa.
Esses bons homens e mulheres da esquerda de clube e bufete, dançará com os olhos na tele, novas versões do show inevitável de Anistia Internacional, ao ritmo solidário de Bono Vox, Lady Gaga, Enrique Iglesias e Cristina Aguilera, porque, ao fim, depois dos desastres que fizeram estes líderes, ex-sócios de Washington e da União Européia, não é possível ver como as crianças e os velhos morrem de fome em países que eram ricos e tinham bons níveis de educação, mas, não tinham democracia.
As causas de fundo que mobilizaram esses povos serão uma mera anedota entre documentos desclassificados do Pentâgono.