Esperando Janot

Janot 2

Por Raul Longo.

Para alguns será uma difícil quaresma, mas para outros a quarta-feira de cinzas promete ser mais festiva do que o carnaval. E tudo por causa da viagem do Procurador Geral da República aos Estados Unidos.

Mas por que Rodrigo Janot foi aos Estados Unidos? Apenas bisbilhotar não é crível porque apesar de bisbilhotarem o resto do mundo, os Estados Unidos nunca foram de permitir que bisbilhotassem nada ali, muito menos suas questões jurídicas.

Lá, os segredos de justiça são segredos mesmo, não têm isso de vazamentos seletivos para a imprensa produzir panfleto eleitoral.

Aliás, Janot diz não gostar disso também. Ameaçou até de revogar o prêmio à delação que o juiz de primeira instância concedeu ao doleiro Alberto Yussef e demais envolvidos.

Poder para revogar todas as premiações concedidas pelo Sérgio Moro, o Procurador Geral da República até que tem, mas para saber se vai exercê-lo o jeito é esperar pelos souvenires de viagem, prometidos para logo depois do carnaval.

Os prêmios concedidos por Sérgio Moro a troco das delações têm espantado à opinião pública, pois além de reduções de pena pela metade ainda restitui substanciosas parte do desviado. É a cortesia com o chapéu roubado do outro.

Então que se combine assim: ao invés de desviar US 10 milhões, desvia-se U$ 50 milhões para depois de se cumprir a pena reduzida se poder usufruir os U$ 10 milhões inicialmente pretendidos. A partir daí é só inventar um laranja qualquer como o Guilherme Estrella e esperar pela benevolência do Janot pra ratificar a do Moro.

Mas estou fugindo do assunto, como diria o Zé Plim-Pim. A grande questão ainda é a real razão de Janot ter ido aos Estados Unidos.

Para entender isso primeiro é preciso saber que os investidores estadunidenses que aplicaram em ações da Petrobras entraram na Justiça de lá para reclamar os prejuízos com a queda das ações da empresa. Mas disso quase todo mundo soube depois que a Mídia brasileira fez o maior estardalhaço e a direita escandalizou-se: “Onde já se viu! Olha a vergonha que o governo do PT nos faz passar perante o mundo, colocando a Petrobras no banco dos réus dos tribunais americanos!”

Pois é justo aí que aparece uma pista do motivo do Janot ter ido aos Estados Unidos! Se a Petrobras foi um dos únicos patrimônios da União salvo da sanha privatista do governo FHC, quem deveria ir aos Estados Unidos defender a Petrobras dos aplicadores que entraram na Justiça de lá por causa da queda do valor de suas ações, era a AGU – Advocacia Geral da União.

Se não foram os defensores, mas sim o Procurador cuja função é a de acusar, é porque muito provavelmente a Justiça dos Estados Unidos acabou concluindo que a Petrobras também é tão vítima quanto aqueles investidores. Lesados através e junto com Petrobras, mas não pela Petrobras.

Lesados por quem? Por aqueles mesmos nomes vazados para a Mídia brasileira pela PF da Curitiba do juiz Sérgio Moro? De certo, não. Se já vazados, não haveria razão da sigilosa Justiça estadunidense chamar o Janot para contar-lhe algum segredo.

Portanto, para saber que novos nomes serão esses, só mesmo esperando Janot.

Mas já se especula bastante. Tem gente apostando que o anúncio desses nomes levará todos os “petralhas” para a cadeia. Lula inclusive e Dilma de cambulhada!

Daí é só consumar o impeachment e concretizar o velho sonho de Jorge Bornhausen de acabarem com a raça do PT pelos próximos 30 anos.

Muito mais! Se o que o FBI entregou ao Janot foram muitos nomes de petistas, não haverá chance alguma do partido se recompor novamente. De jeito nenhum!

Se for um ou outro nome de aloprados, até passa, pois ninguém é ingênuo a ponto de acreditar possível um partido político exclusivamente de gente séria e ideológica. Em todos há aqueles apenas interessados em satisfazer seus interesses pessoais. E quando o partido exerce o governo, desses aparecem ainda mais!

Somente o Zé Plim-Plim para achar que alguém se constrangeria pelo mal feito de um ou outro de algum partido. O próprio PSDB que ele continua acreditando impoluto apesar do Mensalão do Zé Azeredo, na verdade tem na impunidade daquele seu ex-presidente a mancha indelével de sua história.

Pelo fim da impunidade do Azeredo talvez nem adiante mais esperar pelo Janot. Tampouco pela outra enorme mancha tucana produzida pelo sucessor do Azeredo na presidência do partido. Aliás, o único nome do PSDB selecionado para o vazamento das denuncias premiadas pelo juiz Sérgio Moro, e, coincidentemente, também aí é perda de tempo esperar por Janot que não pode fazer mais nada. Sérgio Guerra já morreu.

Sejam quais forem os nomes a ser indiciados por Janot, a coisa agora complicou, pois não vai adiantar habeas corpus do Gilmar Mendes ou condenações e absolvições sem provas com a desculpa de que a literatura jurídica permite. Tampouco importará quais sejam os partidos atendidos pelo juiz de Curitiba ou de sua esposa. Até para o Zé Plim-Plim será difícil acreditar que o FBI esteja apenas querendo proteger algum partido em especial.

Além disso, apesar da leniência brasileira a Justiça dos Estados Unidos provavelmente queira ressarcimento aos seus aplicadores dos responsáveis pela queda das ações da Petrobras. Se for mais esperta do que nossa Justiça não vai cobrar apenas dos corruptos que desviaram diretamente da empresa, mas também dos que especularam com falsas notícias de afundamento da Petrobras, apesar de sua produção e faturamento terem conquistado recordes mesmo com toda campanha contrária.

Sem dúvida, essa resistência na qualidade dos serviços e na probidade de sua administração contribuiu para a percepção do FBI e da Justiça dos Estados Unidos de que a própria Petrobras é a maior vítima de todo o esquema de especulações para denegri-la. Afinal, se criminosa como apontaram, a empresa e sua presidenta recém-demissionária não teriam recebido tantas homenagens dos principais organismos internacionais do setor.

De um jeito ou de outro, inclusive considerando que o Ricardo Boechat contou ter recebido Prêmio Esso de Jornalismo nos anos 80, no governo Sarney, quando fez matéria sobre corrupção na Petrobras; para saber quais os verdadeiros autores dos grandes desvios investigados pelo FBI, até agora omitidos pela Lava Jato e nos escândalos noticiados pela Veja e Globo, não tem outro jeito.

Só mesmo esperando Janot que perante a comunidade internacional não poderá se negar como o personagem do Beckett.

Imagem tomada de: diariodonordeste.verdesmares.com.br

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