Rio de Janeiro- Ações de pacificação, obras de urbanização e projetos sociais não são suficientes para dar segurança aos moradores de favelas cariocas. Com as melhorias, eles temem agora não ter condições de se manter nos atuais endereços, valorizados pela nova qualidade de vida que a pacificação traz para essas comunidades. O aumento do custo de vida e a especulação imobiliária já provocam reflexos em um processo que vem sendo chamado de “remoção branca” ou “remoção camuflada” pela socióloga Marilia Pastuk.
Superintendente da organização não governamental Ação Comunitária do Brasil no Rio Janeiro, Pastuk lançou o livro A Favela como Oportunidade – Plano da Sua Inclusão Socioeconômica. A publicação apresenta um retrato das favelas do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho e da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, além de Manguinhos e Borel, na zona norte.
Na publicação, a socióloga destaca “a pressão” que as melhorias na infraestrutura e o combate ao tráfico de drogas causaram nas comunidades. Explica que moradores temem perder os imóveis porque ainda não têm o documento de posse e que reclamam do peso, no orçamento familiar, da cobrança por serviços essenciais como água e luz que, antes da pacificação, eram acessíveis por meio de ligações clandestinas.
“As pessoas são compelidas não mais pelo Estado, mas pelo mercado. Eles [os moradores] não conseguem segurar o custo de vida [porque não tiveram aumento de renda proporcional] e, por medo de perder seus imóveis para a especulação imobiliária, acabam se transferindo [para áreas mais pobres]”, explicou Marilia Pastuk.
Segundo a socióloga, o Poder Público precisa acelerar o processo de regularização dos imóveis das favelas, além de apoiar ações voltadas à geração de renda, como o turismo. A Rocinha, por exemplo, está localizada em uma das áreas mais nobres da cidade, com vista privilegiada para a orla, o Cristo Redentor e a Lagoa Rodrigo de Freitas. Lá, o turismo já atrai cerca de 3 mil pessoas por mês.
Porém, a atividade turística beneficia apenas um segmento minoritário, segundo a pesquisadora. “As agências de turismo raramente estabelecem um diálogo com as instituições representativas da comunidade e, portanto, não promovem a distribuição efetiva dos lucros”.
Com pesquisas sobre o setor e as vocações econômicas das comunidades, o turismo pode impulsionar o desenvolvimento econômico de outros segmentos, como a produção de uniformes para guias e para rede de hotéis e pousadas. As peças poderiam ser produzidas pelas costureiras da própria favela, aproveitando a experiência da comunidade no ramo da moda.
Edição: Vinicius Doria
*Repórter da Agência Brasil.
Fonte: Agência Brasil.
Foto: www.passeiosnorio.com/favelatourrocinha.html