Especismo, Ecocídio e a degradação da Grande Barreira de Corais

Corais

Por José Eustáquio Diniz Alves.*

A Grande Barreira de Coral é considerada a maior estrutura do mundo feita unicamente por organismos vivos. Trata-se de uma imensa faixa de corais composta por cerca de 1900 recifes, 60 ilhas e 100 atóis de coral, situada entre as praias do nordeste da Austrália e Papua-Nova Guiné, que possui 2.900 quilômetros de comprimento, com largura variando de 30 km a 740 km.

As estruturas dos recifes são compostas por bilhões de minúsculos organismos, conhecidos como pólipos de coral. A Grande Barreira engloba uma enorme biodiversidade e foi eleita um dos patrimônios mundiais da Humanidade. O Conselho Nacional de Queensland também a nomeou como um dos símbolos estaduais do estado australiano de Queensland. Uma grande parte dos recifes são protegidos pelo Parque Marinho de Grande Barreira de Corais, que ajuda a limitar os impactos das atividades antrópicas (Wikipedia, 2015).

Infelizmente, todo este importante patrimônio natural está ameaçado pelo aquecimento global, a acidificação dos oceanos e os episódios meteorológicos extremos, como ciclones e inundações, que aceleraram a degradação da Grande Barreira de Coral. Reportagem do site G1 mostra que os cientistas australianos demonstraram ceticismo quanto ao plano do governo do país para salvar a Grande Barreira de Corais. As alterações climáticas acompanhadas do embranquecimento maciço dos corais e surtos na população de estrelas-do mar e coroa-de-espinhos, que se alimentam dos corais.

Segundo a WWF, no relatório Planeta Vivo 2014, o estado atual da biodiversidade do planeta está pior do que nunca. O Índice do Planeta Vivo (LPI, sigla em Inglês), que mede as tendências de milhares de populações de vertebrados, diminuiu 52% entre 1970 e 2010. Em outras palavras, a quantidade de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes em todo o planeta é, em média, a metade do que era 40 anos atrás. Esta redução é muito maior do que a que foi divulgada em relatórios anteriores em função de uma nova metodologia que visa obter uma amostra mais representativa da biodiversidade global.

Ainda segundo a WWF, a biodiversidade está diminuindo em regiões temperadas e tropicais, mas a redução é maior nos trópicos. Entre 1970 e 2010, o LPI temperado diminuiu 36% em 6.569 populações das 1.606 espécies em regiões temperadas, ao passo que o LPI tropical diminuiu 56% em 3.811 populações das 1.638 espécies em regiões tropicais durante o mesmo período. A redução mais dramática aconteceu na América Latina – uma queda de 83%. As principais causas destas reduções são a perda de habitats e a degradação e exploração decorrente de caça e pesca. As mudanças climáticas são a segunda ameaça primária mais significativa e é provável que exercerão mais pressão sobre as populações no futuro.

Índice Corais

Por tudo isto, se denomina Ecocídio o crime que acontece contra as espécies animais e vegetais do Planeta. Esse crime se espalha no mundo em uma escala maciça e a cada dia fica pior. Exatamente por isto, cresce a consciência de que é preciso mudar o modelo de desenvolvimento que adota um padrão de produção e consumo danoso para o meio ambiente e que é responsável pelo aumento da destruição da vida na Terra. Para tanto, é preciso considerar o Ecocídio um crime contra a paz, um crime contra a natureza e um crime contra a humanidade e as futuras gerações.

O site “Eradicating Ecocide” considera ser necessário a aprovação de uma lei internacional contra o Ecocídio para fazer com que os dirigentes de empresas e os chefes de Estado sejam legalmente responsáveis por proteger a Terra e as espécies não humanas. O Planeta teria que se tornar a prioridade número um da legislação nacional e internacional. O mundo já definiu o Genocídio como um crime, falta fazer o mesmo em relação ao Ecocídio. Não há direitos humanos no longo prazo sem o respeito aos direitos da natureza. Acabar com o ecocídio é também uma forma de evitar o suicídio.

O crime do especismo etá longe de ser uma discussão mais profunda, como já ocorreu com o racismo, o sexismo, o classismo, o homofobismo, escravismo, etc. Recentemente foi criado um site para incentivar a mobilização contra a discriminação das espécies, definindo o dia 22 de agosto de 2015, como o “Dia mundial contra o Especismo”.

A humanidade ocupa cada vez mais espaço no Planeta e tem prejudicado de forma danosa todas as formas de vida ecossistêmicas da Terra. O ser humano está reincidindo cotidianamente nos crimes do especismo e do ecocídio. Se a dinâmica demográfica e econômica continuar sufocando a dinâmica biológica e ecológica a civilização caminhará para o abismo e o suicídio. Porém, antes de o antropoceno provocar uma extinção em massa da vida na Terra é preciso uma ação radical no sentido conter a ganância egoística, garantir a saúde do meio ambiente e a livre evolução da biodiversidade.

Referências:

WWF. Planeta Vivo, relatório 2014, Switzerland, 30/09/2014
http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/relatorio_planeta_vivo/
http://wwf.panda.org/about_our_earth/all_publications/living_planet_report/

G1. Cientistas australianos criticam plano para salvar a grande barreira de corais, 28/10/2014 http://g1.globo.com/natureza/noticia/2014/10/cientistas-australianos-criticam-plano-para-salvar-grande-barreira-de-corais.html

Dia mundial (22/08) contra o Especismo: http://end-of-speciesism.org/

*José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]

Fonte: Portal EcoDebate

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