Em entrevista ao Jornal Brasil Atual nesta quinta-feira (12), especialistas do campo da saúde defenderam punições contra empresas farmacêuticas que lucraram em cima do ineficaz “tratamento precoce” contra a covid-19. A sugestão foi levantada na sessão de ontem da CPI da Covid e ganhou o apoio de senadores do colegiado. Pessoas que se sintam lesadas por conta do uso do chamado “kit covid” devem, segundo os parlamentares, procurar as defensorias públicas de seus estados para buscarem indenização.
A cúpula da comissão também confirmou que encaminhará ao Ministério Público Federal pedido de indiciamento do presidente Jair Bolsonaro pelos crimes de curandeirismo e charlatanismo, entre outros, pelo que classificam como uma campanha “inconsequente” e “criminosa” em favor do “tratamento precoce”, defendida pelo mandatário mesmo sob a advertência de comprovada ineficiência científica dos medicamentos. A judicialização também é defendida pelos especialistas.
“Temos uma responsabilidade geracional em cobrar esses crimes contra a humanidade que estamos assistindo nessa nossa geração porque é isso que se opera. Não tem jeito, não tem outro caminho além de se basear na ciência e na técnica para fazer esse enfrentamento”, defendeu o farmacêutico Ronald Ferreira dos Santos, presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), mestre em Farmácia e ex-presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Lucro ficou acima de vidas
À jornalista Marilu Cabañas, o especialista condenou as relações “promíscuas” que vieram à tona na pandemia entre a indústria farmacêutica, o governo federal e alguns médicos. Esses desvios ficaram evidentes após o depoimento à CPI do diretor-executivo da farmacêutica Vitamedic, Jailton Batista. Ele confirmou que a empresa obteve lucro significativo durante a pandemia com a venda da ivermectina. O remédio foi usado de forma indiscriminada por muitas pessoas para evitar o coronavírus, apesar de sua ineficácia. A droga tem uso indicado apenas para o tratamento de verme, sarna e piolho. Mas ganhou fama após falas favoráveis de Bolsonaro e de governistas desde o início da crise sanitária.