Por Marina Mattar.
Milhares de pessoas tomaram as ruas de 57 cidades espanholas neste domingo (07/10) para protestar contra os cortes e reformas do governo em sua política de austeridade. Os manifestantes exigem referendo sobre o tema sob o argumento de que as decisões das autoridades não são democráticas e prejudicam grande parte da população.
A proposta, que surgiu nas manifestações do dia 15 de setembro deste ano, está ganhando cada vez mais força entre os movimentos sociais e sindicatos engajados na luta contra as medidas de combate à crise do governo espanhol.
“Não há duvida de que estamos diante de uma fraude eleitoral, como não existe dúvida de que o governo está adotando medidas de grande importância para o bem-estar da maioria com total falta de transparência e obscurantismo deliberado”, afirma o manifesto que embala o ato deste domingo (07/10).
Os manifestantes apontam que a política de austeridade espanhola trouxe mais desemprego, mais crise e menos proteção social, beneficiando apenas as elites econômicas e financeiras do país. Muitos carregaram cartazes com escritos como “Não quero este país para os meus filhos”, “Não aos recortes”, “Querem arruinar o país! É preciso impedir” e “Juventude sem emprego, sociedade sem futuro”.
O protesto foi convocado e organizado pela plataforma Cúpula Social que reúne 150 organizações em representação de mais de 900 entidades sociais e sindicais de diferentes âmbitos da sociedade espanhola e integra agenda política de manifestações no país.
O ato deste domingo (07/10) é uma continuidade com as manifestações do dia 15 de setembro e a preparação para a possível greve geral internacional, como destacaram organizadores no discurso final.
Se não houver consulta popular sobre as medidas econômicas, os trabalhadores vão fazer greve, explicaram os líderes sindicais, Ignacio Fernández Toxo e Cándido Méndez. “Se aceitam convocar o referendo se abrirá um cenário totalmente distinto”, disseram eles citados pelo jornal espanhol Publico.es. “Se não, seguiremos avançando até a greve geral”, acrescentaram.
Os integrantes da Cúpula Social destacaram, em seu comunicado lido pela atriz Nuria Pérez, que estão tentando coordenar junto de outros movimentos sociais uma greve geral em diversos países da União Europeia. Até agora, os sindicatos propuseram o 17 de outubro como o dia para mobilização geral no continente.
A violência policial das manifestações do mês de setembro também foi condenada nos protestos deste domingo (07/10). Os movimentos sociais que assinaram o manifesto demonstraram sua preocupação com a “política autoritária do governo” em relação aos protestos.
No fim de setembro, o presidente espanhol, Mariano Rajoy do PP (Partido Popular) ironizou as manifestações e elogiou a “imensa maioria dos espanhóis que está trabalhando, fazendo o que pode e dando o melhor de si”, sem se deixarem “levar pelo comportamento de alguns cidadãos”.
Política de austeridade
Para combater a profunda crise econômica que assola o país desde 2008, o governo espanhol negociou empréstimos bilionários com a Troika (grupo formado por Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia). Grande parte do dinheiro foi destinada à recapitalização dos bancos espanhóis, quebrados com a crise no sistema financeiro.
Em contrapartida aos pacotes de empréstimo, a Troika exige que as autoridades espanholas aprovem um amplo pacote de medidas com cortes severos do orçamento público e drástico aumento dos impostos para diminuir o déficit estatal. Em julho deste ano, Rajoy anunciou o mais novo plano de austeridade para economizar 65 bilhões até 2014.
Ao contrário de ajudarem na recuperação econômica, essa política apenas agravou ainda mais a crise. O desemprego no país registrou o pior índice de sua história neste segundo trimestre atingindo uma em cada quatro pessoas da população ativa do país, segundo dados do INE publicados no dia 27 de junho. Cerca de 50% dos jovens estão sem empregos.