Escândalo: Exportação de combustível do Brasil para “israel” subiu 44.000% desde 2023

Federações nacionais dos petroleiros pedem ao governo que suspenda a venda de petróleo, que alimenta a máquina de extermínio contra o povo palestino

Brasil destinou 2,7 milhões de barris de petróleo bruto a “israel” no ano passado

Por Eduardo Vasco, Fepal.

Na última quarta-feira (30), completaram-se 600 dias de genocídio cometido por “israel” em Gaza. São mais de 66 mil palestinos exterminados, contando com mais de 11 mil desaparecidos, ainda soterrados baixo as ruínas deixadas pelos bombardeios israelenses. Isso representaria, no Brasil, proporcionalmente, um morticínio de 6,3 milhões de pessoas.

Um terço da população dizimada é composta por crianças (mais de 22 mil), enquanto a quantidade de mulheres mortas é de mais de 13 mil. É a maior proporção de mulheres e crianças assassinadas em toda a história, maior que na II Guerra Mundial. Também são mais de 10 mil palestinos sequestrados de Gaza e da Cisjordânia, incluindo menores, mulheres, idosos, médicos, e aprisionados nos campos de concentração israelenses, onde sofrem torturas e acabam morrendo. Um brasileiro está entre as vítimas fatais, e outros 11 permanecem presos sob condições desumanas.

Além da luta da resistência palestina em Gaza, há a solidariedade internacional. A maior demonstração dessa solidariedade tem vindo, desde outubro de 2023, dos houthis no Iêmen. Eles bloquearam o Mar Vermelho, por onde passa cerca de 12% do comércio marítimo mundial. Isso tem representado um duro golpe à economia israelense, voltada para a guerra. Também há um embargo comercial a “israel” por vários países, especialmente árabes e islâmicos. Contudo, mesmo alguns países muçulmanos têm adotado uma postura dúbia, de denúncias a “israel” enquanto alimentam a máquina de guerra israelense.

No Brasil, o presidente Lula é um dos maiores denunciantes do genocídio em Gaza. Poucos indivíduos ou organizações têm a capacidade de alcançar tanta gente e “furar a bolha” como ele tem. E ele tem alcançado muita gente e furado muito a bolha da censura promovida pela imprensa às denúncias contra “israel”. Lula tem a coragem que poucos líderes mundiais têm, denunciando o genocídio pelo que ele é, em frente aos inquisidores da imprensa brasileira, ferramenta de propaganda e manipulação a serviço de “israel”. Porém, a coragem de Lula não se reflete em ações concretas do governo brasileiro para frear a matança em Gaza, permitindo que setores da burguesia brasileira e internacional, além do lobby sionista, atuem livremente pela aniquilação dos palestinos. Os discursos são importantes, mas medidas práticas são urgentes.

“israel” tem uma balança comercial global deficitária. No entanto, com o Brasil, sua balança é superavitária desde o início da série histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, em 1997. Ou seja, o comércio com “israel” sempre foi deficitário para o Brasil.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. (Gráfico: Fepal)

Em 2024, o Brasil foi o 12º maior parceiro comercial de “israel”, representando 2,1% do comércio do regime genocida. É o 2º das Américas (atrás dos EUA, o maior parceiro de “israel” no mundo) e o 1º da América Latina (o segundo é o México, que no geral é o 28º parceiro de Israel, com um comércio três vezes menor que o brasileiro).

Até fevereiro do ano passado, o Brasil era um dos cinco maiores fornecedores de petróleo para “israel”, de acordo com estudo feito pela ONG Oil Change International. O Brasil enviou 260 mil toneladas de petróleo cru produzido em campos de propriedade conjunta da Shell, TotalEnergies e da Petrobras entre 13 de outubro de 2023 e finais de janeiro de 2024. Esse óleo cru foi enviado em duas viagens desde o porto de Santos. Até o mês de julho, o Brasil era responsável pelo fornecimento de 9% do petróleo bruto importado por “israel”, tendo enviado 65 remessas de óleo cru e combustível nos primeiros nove meses de genocídio.

Segundo a investigação, Shell, TotalEnergies e outras multinacionais facilitaram o fornecimento do combustível. Um porta-voz da Petrobras disse ao jornal The Guardian que a empresa não “entregou nenhuma carga de petróleo bruto de sua produção a Israel” naquele momento. Seja como for, em 2024 o Brasil destinou 2,7 milhões de barris de petróleo bruto a “israel”, de acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), em carta enviada esta semana ao presidente Lula pedindo o embargo energético aos perpetradores do Holocausto Palestino.

Conforme os dados que podem ser encontrados na plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o Brasil tem aumentado exponencialmente a exportação de petróleo para Tel Aviv desde o início do genocídio atual em Gaza, no dia 7 de outubro de 2023. A venda de óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos (exceto óleos brutos) do Brasil para “israel”, em 2024, teve um aumento de 12.380% em valores em comparação com 2023. E, até abril de 2025, teve um aumento de 256% em relação a 2024, chegando a cerca de R$ 900 mil. O valor exportado em 2025 é 44.300% maior que aquele de 2023. Também é 790% maior do que em todo o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, um dos maiores aliados de “israel”.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. (Gráfico: Fepal)

Já a exportação de óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos crus teve um aumento de 55% em 2024 em comparação com 2023 (exportamos para “israel” mais de R$ 1 bilhão em óleo bruto em 2024). Este ano, até abril, essa categoria de produto ainda não foi exportada para “israel”. Por último, a exportação de produtos residuais de petróleo e materiais relacionados, em 2024, foi 1.347% maior que em 2023, e foi também maior do que em qualquer ano do governo Bolsonaro. Essa categoria de produto também não foi exportada para “israel” este ano, até o mês de abril.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. (Gráfico: Fepal)

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. (Gráfico: Fepal)

O The Guardian informa que “Israel depende do petróleo bruto e de produtos refinados do exterior para operar a sua grande frota de aviões de combate, tanques e outros veículos militares”. No ano passado, a Corte Internacional de Justiça, que considera a ocupação da Palestina ilegal e está julgando o bloqueio de ajuda humanitária, exigiu que “israel” evite qualquer ato genocida e recomendou a países e empresas não serem cúmplices desses atos. Empresas e países que fornecem petróleo às forças armadas israelenses, portanto, segundo o entendimento da CIJ, são cúmplices desse genocídio.

A entrega da Petrobras a acionistas privados e a quebra do monopólio estatal são os principais responsáveis pelo apoio prático que está sendo fornecido a partir do Brasil para o extermínio de crianças e mulheres palestinas. As multinacionais que exploram o nosso petróleo e os parasitas que se apoderam da Petrobras lucram com o abastecimento dos tanques e aviões israelenses que destroem Gaza. Esse caso é mais um que comprova a necessidade de reestatização completa da Petrobras e sua submissão ao controle direto dos trabalhadores petroleiros, bem como do retorno do monopólio nacional e estatal da exploração do petróleo brasileiro.

Sindicatos e organizações populares, na Europa, estão realizando protestos e ações de sabotagem do transporte de combustível para “israel” nas ferrovias e portos. A campanha Embargo Global de Energia para a Palestina argumenta que a energia em todas as suas formas — carvão, petróleo bruto, combustível de aviação e gás — desempenha um papel ativo no fomento do genocídio e no financiamento da ocupação colonial da Palestina. Ela apela a trabalhadores, sindicatos, organizações ambientais e grupos pró-Palestina para que bloqueiem e interrompam o fluxo de energia, como o combustível de aviação militar, que entra e que sai de “israel”.

A FUP e a FNP, na carta destinada ao presidente Lula, “enfatizam a necessidade de o Brasil ir além das declarações públicas e implementar um embargo energético robusto contra Israel, em conformidade com suas obrigações legais internacionais”. Elas exigem a suspensão imediata de exportações de petróleo, de projetos com empresas de energia e o apoio a medidas internacionais contra o regime sionista. “O Brasil forneceu para Israel o petróleo bruto e refinado para operar sua frota de caças, tanques e outros veículos e operações militares, bem como as escavadeiras que atuam destruindo a infraestrutura nos campos de refugiados e cidades da Cisjordânia ocupada.”

“Os signatários acreditam firmemente que a liderança do Brasil pode estabelecer um precedente para que outras nações ajam de forma decisiva diante da Nakba (a catástrofe palestina) em curso”, dizem os petroleiros.

Eduardo Vasco é jornalista especializado em política internacional, autor dos livros-reportagem “O povo esquecido: uma história de genocídio e resistência no Donbass” e “Bloqueio: a guerra silenciosa contra Cuba”.

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