Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.
Era tarde pra noite e houve medo no peito
Escreveu um verso torto e molhou as flores
Caminhou em pés de descalços no tapete
Depois de colher roupas num jardim – varal
Expôs as melhores flores/roupas no cabide
E foi atravessado pela consciência daquele agora
Afinal… quanto tempo o tempo tem?
Se há tempo, esse tempo é pra quem?
E pôs os pés na rua como não fazia
Desde que vestiu máscara de gente séria
Arriscou se perder pelas esquinas
Contou estrelas na avenida principal
Achou graça nos passantes
Apressados, caminhantes… errantes
Poetas, bêbados, bancários
Estudantes, enfermeiros, ordinários
Todos indo… indo… indo…
Todos não perdidos, com hora e destino
Hora e destino…
Hora e destino!
Se refez do desatino
Olhou o relógio pulsando os afazeres em seu pulso
E quase ouviu seu sussurro em aviso:
– Amanhã é dia! E contas pra pagar! Esse tempo não é seu. Não vá se demorar
E parou diante de qualquer novidade
Qualquer uma que ousasse apresentar um caminho
Refez o trajeto até o instante posto de breve liberdade
E esmurrou a própria moral em punição
Lembrando que o que não é, não é
E que começo do mês é mercado, filas e o que sobrar do salário
“A vida é essa!”
Deu volta e lá se foi pro ninho
Se banhou, comeu uma besteira
E dormiu o sono dos justos, porém infelizes.
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Guigo Ribeiro é ator, músico e escritor, autor do livro “O Dia e o Dia Que o Mundo Acabou”, disponível em Edfross.
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