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Equador: Democracia ou república bananeira. Por Jorge Elbaum

A retórica do conflito armado contra o narcoterrorismo tornou-se o pretexto para instaurar um estado de exceção, útil à lógica neoliberal.

Foto: Luisa González, candidata da Revolución Ciudadana em reprodução em X
Por Jorge Elbaum.

Os resultados das eleições presidenciais no Equador serão lidos como um indicador do humor na América Latina e no Caribe em relação à brutalidade supremacista de Donald Trump. Seu atual presidente, o empresário bananeiro Daniel Noboa (foto), expressa – junto com Javier Milei, Nayib Bukele e Santiago Peña – o quadrado da servidão neocolonial. Essa posição explica a intimidação sofrida nas últimas horas pela candidata da oposição Luisa González.

No início de março, o presidente equatoriano organizou uma visita a Mar-a-lago por meio da empresa Mercury Public Affairs, onde foi realizado um jantar de gala. O objetivo da viagem era tirar uma foto com o magnata de rosto vermelho que virou presidente, o que custou US$ 165.000, pagos pelo governo equatoriano. O transporte aéreo não deveria ter sido pago pelo orçamento público, pois foi financiado por um de seus amigos empresários, o ex-político argentino Francisco de Narváez, dono de uma rede de supermercados sediada em Quito e Guayaquil. Semanas depois da doação, em 29 de março, a foto foi tirada.

Luisa González, sua adversária no segundo turno das eleições, é candidata do Movimento Revolução Cidadã (MRC), organização política de Rafael Correa. Sua campanha foi marcada por assédio e perseguição pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e pelas forças de segurança. As autoridades eleitorais inicialmente rejeitaram sua candidatura, ela foi atacada com gás lacrimogêneo e foi detida na semana anterior ao segundo turno.

Noboa é o oposto de González. Enquanto o primeiro se reunia com Trump, González assinou um Acordo pela Vida com Guillermo Churuchumbi, coordenador nacional do movimento Pachakutik, na paróquia indígena de Tixán, no planalto central equatoriano, com o objetivo de defender o meio ambiente, enfrentar a mineração a céu aberto e garantir os direitos dos povos indígenas. O líder de longa data do Pachakutik, Leónidas Iza, resumiu o acordo apontando a necessidade de garantir que “nenhum voto à direita” seja promovido.

Após o triunfo da Frente Ampla na República Oriental do Uruguai, cujo governo tomou posse em 1º de março, funcionários do Departamento de Estado e da CIA voltaram seus olhos obsessivamente para Quito, com o objetivo de garantir a presença contínua de Noboa e garantir que seu segundo mandato seja inaugurado em 24 de maio. Os Estados Unidos fizeram do Equador seu novo enclave regional, depois que Gustavo Petro e Claudia Sheinbaum direcionaram suas ações contra os cartéis de drogas dentro da estrutura de políticas abrangentes, alheias à militarização sugerida por Washington.

Imagen: AFP

González e Noboa eram concorrentes nas eleições de 2023, nas quais o primeiro venceu por 3,6 pontos percentuais, aproveitando uma operação intencional de desinformação que vinculou o correísmo ao assassinato do candidato Fernando Villavicencio. Naquela ocasião, a mídia nacional de direita, controlada pelas oligarquias da banana e do petróleo, usou o crime cometido por traficantes de drogas do cartel albanês para culpar o MRC. Em 8 de abril, a viúva de Villavicencio, Verónica Sarauz, denunciou publicamente que a Procuradoria-Geral do Equador a pressionou sistematicamente — usando o depoimento de uma suposta testemunha protegida — para culpar Rafael Correa pela morte de seu marido, a fim de “proteger poderes financeiros que operam impunemente no Equador e que estão vinculados ao narcotráfico”.

A retórica do conflito armado contra o narcoterrorismo tornou-se o pretexto para instaurar um estado de exceção, útil à lógica neoliberal, que, por um lado, tem carta branca para reprimir as reivindicações sociais e, por outro, tem a oportunidade de lavar enormes quantias de divisas geradas pela exportação de drogas. Esse mesmo mecanismo está sendo utilizado nos Estados Unidos para atingir cartéis mexicanos e, ao mesmo tempo, capitalizar seus lucros em circuitos opacos em Las Vegas, paraísos fiscais, fundos de investimento ou criptomoedas (como a libra de US$ 1.000).

Em janeiro de 2024, Noboa declarou “Estado de Conflito Armado Interno” e solicitou colaboração do Departamento de Estado. A Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos (CBP) se comprometeu – no âmbito da cooperação binacional – a realizar atividades de vigilância naval, utilizando a base aérea Simón Bolívar e o aeroporto de San Cristóbal, no arquipélago das Ilhas Galápagos. Essa atividade, proibida pela constituição equatoriana, foi endossada pelo General Oswaldo Jarrín, conselheiro não oficial de Noboa, que foi treinado na Escola das Américas em contraguerrilha. Noboa propôs recentemente ao Congresso a necessidade de eliminar o Artigo 5 da Constituição de 2008, que proíbe o estabelecimento de bases militares estrangeiras.

A colaboração de Washington incluiu a presença, como propaganda de campanha de Noboa, do contratante militar Erik Prince, fundador da empresa mercenária Blackwater, renomeada Academy. Vários de seus membros foram condenados nos Estados Unidos pelo assassinato de 17 civis na Praça Nisour, em Bagdá, em 2007, mas Trump decidiu perdoá-los em 2020. Erik Prince declarou, após visitar o porto de Guayaquil, que “O povo do Equador pode escolher a lei e a ordem, elegendo Daniel Noboa; ou pode escolher fazer o país parecer à Venezuela”.

Jorge Elbaum é jornalista em Página 12 (AR).

Tradução ao português: Redação do Portal Desacato.

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