Equador: Assassinato de Fernando Villavicencio e as perguntas principais

Fernando Villavicencio. Foto: Twitter

Por Wevergton Brito Lima, Súmula Internacional.

(…) Quem foi o responsável (ou quem foram os responsáveis) pela morte? Que impacto o assassinato terá nas eleições presidenciais?

Um grupo de traficantes, “Los Lobos”, considerado o segundo maior do país, divulgou um vídeo reivindicando a autoria do atentado (veja abaixo). Segundo os bandidos, Fernando Villavicencio teria recebido dinheiro do grupo e não “cumpriu com suas promessas”.

https://twitter.com/EmergenciasEc/status/1689511156749127680?s=20

Toda vez que políticos corruptos não cumprirem suas promessas quando receberem nosso dinheiro, que é de milhões de dólares, para financiar sua campanha, serão dispensados”, afirmaram.

Com as investigações no início, o que existem são especulações e mesmo em relação ao vídeo é necessária a máxima cautela.

Quanto ao impacto nas eleições podemos avançar um pouco mais. Em primeiro lugar, o presidente em exercício, Guilhermo Lasso, decretou estado de exceção mas descartou adiar o segundo turno, que, tudo indica, será de fato realizado no dia 20/8.

Antes do assassinato, a candidata de esquerda, Luisa González, representante da Revolução Cidadã, corrente liderada pelo ex-presidente (2007-2017) Rafael Corrêa, liderava com folga, tendo inclusive a possibilidade de vencer no primeiro turno. No Equador, vence a eleição sem necessidade de 2º turno o candidato que obtiver mais de 50% dos votos, ou mais de 40% dos votos, desde que, neste último caso, tenha uma diferença de pelo menos 10% em relação ao segundo colocado. Na pesquisa que publicamos ontem, da empresa TelcoData, Luisa aparecia com 30,5% (descontando os votos nulos e brancos, o índice se aproxima de 40%) e em segundo estava Jan Topic, com 13,1%, seguidos por Yaku Pérez, com 7%, Fernando Villavicencio, com 6,8%, e Otto Sonnenholzner, com 6,5%, todos contrários ao “correísmo”.

Diante do trágico acontecimento, dois fatores parecem favorecer a direita e os adversários da Revolução Cidadã, talvez em especial Jan Topic. Villavicencio era feroz opositor da Revolução Cidadã, como jornalista criou diversas “fake news” contra Rafael Corrêa e seria de esperar que seus votos (que segundo diversas pesquisas oscilavam entre 6% e 9%) migrem para alternativas de direita, preferencialmente para quem teria mais chances de derrotar a candidata da esquerda.

Outro fator é que Jan Topic, de extrema-direita e que está em segundo lugar nas pesquisas, reivindica e elogia o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, que a pretexto de combater as gangues de traficantes salvadorenhas, governa El Salvador há 17 meses sob estado de exceção, promovendo prisões sem ordens judiciais e estando suspensas as liberdades e garantias básicas. Jan Topic promete fazer parecido no Equador e bem sabemos que este discurso, falsamente de “lei e ordem”, galvaniza parte do eleitorado, fenômeno que pode ser potencializado pelo cruel assassinato.

O que é capaz de atrapalhar a propaganda do “justiceiro” equatoriano é que no vídeo de Los Lobos, eles também acusam Topic de ter recebido dinheiro do grupo: “Você também, Jan Topic, mantenha sua palavra. Se você não cumprir suas promessas, você será o próximo”.

Luisa González se pronunciou de forma contundente: “Com indignação recebo a terrível notícia do atentado que ocasionou a morte de Fernando Villavicencio, isso traz luto a todos nós, meu abraço solidário a todos os seus familiares e correligionários. Este ato vil não ficará impune!”.

Já Rafael Corrêa, depois de também condenar veementemente o crime, comentou o vídeo de Los Lobos: “Como pode a inteligência do Estado – CIEC ou como se chama agora – não detectar uma concentração tão grande de criminosos, e com armas pesadas? Eles destruíram TODO o sistema de segurança, por ódio, inaptidão e corrupção. Muitos aplaudiram, e hoje choramos lágrimas de sangue. Devemos acabar com esse terror. Juntos, podemos fazer”.

Faltando apenas 10 dias para o segundo turno, com grande expectativa de vitória da esquerda, o assassinato de Fernando Villavicencio pode, sem dúvida, embaralhar o jogo, embora, parafraseando Pascal, o eleitor muitas vezes tenha razões que a própria razão desconhece.

Encontre os números anteriores da Súmula Internacional na editoria Visão Global

 

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