Por João Paulo da Cunha Gomes.
É preferível um médico que fale espanhol, mas que seja atencioso, dedicado, comprometido, humano e profissional a um médico que fale português e desempenhe seu papel em trinta segundos ministrando laxante para tratamento de dor de garganta.
A população que precisa de médico não está interessada em saber quanto o profissional vai ganhar, o que fará com o dinheiro, para onde irá mandá-lo, onde o investirá; se o profissional fala espanhol, romeno, copta ou marciano. Aquele que necessita de um médico não quer saber se o reacionário lê a Veja e procura mil e um defeitos onde não existe; ele apenas quer ser atendido. O programa Mais Médicos não é para o “come mortadela e arrota peru”; é para os brasileiros que têm título de eleitor, mas que ainda morrem de resfriados, à margem de uma simples avaliação clínica de profissional.
O que é visível é que a chegada dos médicos cubanos irrita a parte nojenta da sociedade não pelo fato de os profissionais serem estrangeiros, mas sim pelo motivo de eles serem cubanos. Não haveria qualquer pitaco, nesse sentido, se os médicos fossem estadunidenses, franceses ou italianos. Esse discurso indigesto da sociedade azeda é herança da época do “cala a boca”; faz parte do pacto de isolamento ideológico imposto à ilha caribenha pelo império dos gafanhotos. Essas teses imbecis partem dos altos escalões fascistas e vêm descendo, passando pela imprensa até chegar ao bico dos papagaios.
Por que o radical classe média destila tanto ódio assim por absolutamente tudo que proporcione a melhora da vida do mais necessitados? Talvez a explicação possa ser a seguinte: a madame, que tem dinheiro, seguirá pagando seus médicos particulares, e também pagando pelos exames, internações e cirurgias. Portanto, a madame nem está aí para o Mais Médicos. O mais pobre, os indígenas e ribeirinhos do interior das selvas brasileiras, os sertanejos, nordestinos, e demais brasileiros das áreas onde o Estado não chega, serão agraciados com médicos de qualidade que vieram para o Brasil para tratar-lhes; receberão atenção, tratamento digno, com humanidade, carinho e respeito. Já o dito cujo classe média seguirá pagando seu plano de saúde particular que não funciona e brigando na justiça, nos Procons, na imprensa, por não conseguirem agendar uma simples consulta.
O Mais Médicos é um programa emergencial; pessoas necessitam de atendimento médico e não têm como esperar pela melhoria da infraestrutura, que todos sabemos que é deficiente, e cobranças nesse sentido devem ser direcionadas aos governadores dos estados e às diretorias das unidades de saúde, que são os que administram as verbas. Como solução emergencial, a presença dos médicos representará melhoria na qualidade de vida dos lugares onde estes forem desempenhar suas missões.
Quem manda no Brasil é cada um dos brasileiros. Para cada reacionário hipócrita há, no mínimo, dois ou três cidadãos conscientes. O único mal que os médicos cubanos não conseguirão tratar é a epidemia de náusea causada pela minoria ignóbil.