Epidemia de dengue em Joinville: negligência ou incompetência. Por Márcio Cruz

Joinville continua sendo a cidade com maior incidência de focos do mosquito, casos confirmados e mortes em Santa Catarina.

Foto: EFE

* Por Marcio L. V. Cruz.

Em abril de 2023, portanto, há um ano, publiquei no portal O desacato, um artigo com o título: “Alerta Joinville: epidemia de dengue é caso de má gestão.”. No artigo, evidencio dados de que a epidemia de 2023 era previsível e indico que a epidemia de 2024 estava a caminho. E chegou. Chegou mais forte e trágica, especialmente para as 23[1] famílias de joinvilenses que até o dia 26 de abril desse ano perderam uma pessoa amada.

A previsível quinta epidemia de dengue em Joinville

A atual epidemia da dengue em Joinville (2024) é a quinta epidemia consecutiva, e, portanto, os agentes e servidores públicos que monitoram as incidências epidemiológicas em nosso município já anunciavam a atual tragédia. Infelizmente, esses profissionais não têm poder executivo para tomada de decisão no sentido de fazer o que é preciso ser feito. A autoridade executiva é da Secretária Municipal de Saúde e do prefeito municipal Adriano Silva (semiNovo).

No estado de Santa Catarina, a negação da ciência é a regra, não a exceção. Infelizmente, a epidemia de dengue no Brasil tem como um dos vetores a negação da ciência no governo Bolsonaro, que, em SC deixou raízes de desrespeito à ciência e à vida. Em Joinville, cidade de maior incidência da epidemia de dengue no estado, o prefeito Adriano Silva, (semiNovo), diz que nada tem a ver com o bolsonarismo, mas, faz de tudo para não perder seu eleitorado negacionista.

Contra os crescentes indicadores de mortes em crianças pelo Coronavirus no Brasil, Adriano Silva publicou decreto “dispensando obrigatoriedade da vacina da Covid-19 para matrícula em escolas e CEIs[2], mais um gesto de negação da ciência que implica no risco a vida de milhares de crianças e adolescentes de Joinville. Felizmente, como todo país que vive sobre o Estado Democrático do DIREITO, essa absurda negação da ciência foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal[3] junto ao decreto de outros prefeitos bolsonaristas do estado de SC.

Por um conjunto de instrumentos do Sistema Único de Saúde – SUS, todos os estados são obrigados a registrar sua condição e situação epidemiológica. Por isso, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE) do governo do estado de Santa Catarina tem publicado boletins detalhados sobre a dengue desde 2016[4], junto de um conjunto de informações sobre a doença.
O Informe Epidemiológico N°12/2024 (16/04/2024)[5], registra que em Santa Catarina, dos casos em todo o ano de 2023, foram notificados 245.842 casos suspeitos, sendo que, somente nos primeiros quatro meses de 2024, já estão notificados 242.543[6] casos e, Joinville continua sendo a cidade com maior incidência de focos do mosquito, casos confirmados e mortes.

Linha histórica de Joinville

Joinville tem dados epidemiológicos sobre a dengue desde 2020. Importante frisar que os dados do município não são idênticos aos dados do governo do estado e do Ministério da Saúde, mas, vamos considerar os dados da prefeitura como fonte desse artigo, pois, fica ainda mais evidente que a administração municipal tem informações sobre o que está acontecendo e é incapaz de reagir de forma eficaz, eficiente e efetiva, ou, para dizer o mínimo, comprometida com a saúde pública, tal como evidencio na tabela abaixo.

Tabela 1

Ano Casos notificados Casos confirmados Aumento de casos em relação ao ano anterior  

Total de óbitos por ano

Aumento de óbitos em relação ao ano anterior
2020 13.168 8743 0 0 0
2021 25.449 16.423 + 7.860 5 0
2022 32.396 21.304 + 4.881 19 + 14
2023 71.036 44.084 + 22.780 39 + 20
2024* 72.134 15.540 Até 04/2024 23

*Dados até 26/04/24 as 07h00.

Fonte: SINAN- Vigilância Epidemiológica Prefeitura Municipal de Joinville

Há pouco mais de um ano, no dia 28 de março de 2023, o prefeito de Joinville Adriano Silva (semiNovo) fez um pronunciamento em vídeo nas redes sociais[7] da prefeitura para se solidarizar com a família da primeira vítima da dengue, em Joinville, naquele ano (uma jovem de 26 anos) e afirmar que a administração municipal realizava “ações permanentes para combater a dengue”, incluindo “visitas domiciliares, aplicação de fumacê, monitoramento de armadilhas, orientações e aplicação de larvicida”. No mesmo vídeo, Adriano Silva (semiNovo) pediu para a população fazer a sua parte! Em termos mais ou menos implícitos sua fala deu a entender que a prefeitura não tinha mais nada a fazer.

De lá para cá, nada mudou. A prefeitura municipal continua responsabilizando os munícipes por sua incompetência ou, por sua omissão diante dos dados alarmantes.

O prefeito Adriano Silva (semiNovo) sabe, volto a dizer, sabe que para prevenir a dengue em Joinville seriam necessários em torno de 264 Agentes de Endemias. Esse dado é uma estimativa do plano estruturado de combate a Dengue da comissão de Intergestores Bipartite (deliberação 155/CIB/2022) ou seja, “1 Agente de Combate a Endemias por 1.000 imóveis” (residenciais ou não). Isso significa que o prefeito Adriano Silva (semiNovo) optou, isso mesmo, optou por não contratar agentes suficientes para combater a dengue em 2023 e 2024, considerando os indicadores desde 2021, ano em que assumiu como prefeito a Cidade de Joinville; todos os óbitos ocorreram sob sua gestão, uma tragédia.

A população de Joinville conta com menos de 80 agentes de endemias e outros 40 dizem que estão, ou serão contratados com recursos do governo federal, no entanto, epidemiologistas afirmam que para combater uma epidemia de dengue, são necessários mais agentes do que para combater o mosquito em situação não epidêmica.

Posso afirmar que a exposição da população de Joinville ao contágio da dengue no ano 2023 e agora, em 2024 respondem a uma curva de contágio previsível, considerando os eventos anteriores e tendência projetada, portanto, a quinta epidemia consecutiva de dengue em Joinville tem um responsável direto, o prefeito Adriano Silva (semiNovo), que não lidera a Secretária Municipal de Saúde para que aplique os “Protocolos de segurança quanto ao controle de riscos de contágio da dengue”. Hoje, esses protocolos não são levados a termo, no caso da quantidade de Agentes de Endemias é fato incontestável!

Em 2023, escrevi no artigo que meu interesse era “alertar o poder público municipal de Joinville para que mudasse a rota na ‘guerra contra a dengue’.” Neste, é para denunciar o poder público municipal por sua omissão diante dos fatos. Escrevo este artigo em 26 de abril de 2024 e os dados apontam que já alcançamos a trágica estatística de 23 óbitos, sendo que, no mesmo período do ano anterior (20/04/23) havia 6 óbitos confirmados, ou seja, em termos aproximadamente 4 vezes mais mortes em 2024, do que no ano anterior considerando o mesmo período. Infelizmente os prognósticos não são nada animadores.

Por não acreditar em omissão, quero crer na incompetência e na falta de planejamento da gestão municipal no combate a dengue. Planejamento nada mais é do que o domínio da razão humana sobre as circunstâncias. Não planejar, diante de riscos à saúde pública, atuando de forma improvisada diante de protocolos de gestão, resulta em tragédia anunciada. Se a administração planejou, foi incompetente, se não planejou foi omissa.

Em 2023, o prefeito Adriano Silva (semiNovo) trocou o secretário municipal de Saúde pela atual secretária, Tânia Eberhardt, que infelizmente, frustrou a todos. Colocou seu histórico na Saúde a serviço da incompetência da administração municipal, que não enfrentou de forma responsável a guerra contra o mosquito Aedes Aegypti.

Para o ano de 2024, não há muito o que fazer a não ser denunciar o óbvio, se nada for feito para alterar a rota, teremos a 6ª epidemia de dengue em 2025, com um aumento de notificações, casos e de forma irresponsável, mais óbitos. Não é necessário ser vidente para concluir esse prognóstico, é só ler os dados e suas tendências.

Espero que os candidatos e candidatas a prefeitura municipal, nas eleições desse ano, apresentem um protocolo de compromissos para o combate a dengue com metas de redução de notificações, contágio e mortes. Infelizmente, os resultados não serão efetivos no primeiro ano de gestão, uma vez que o Aedes Aegypti leva em média 10 dias para se desenvolver e vive durante 30 dias, sendo que uma única fêmea produz de 60 a 120 ovos em cada ciclo reprodutivo e pode ter mais de três ciclos durante seu curto tempo de vida, mas, sobre isso, creio que o Prefeito Adriano Silva (semiNovo) também já tenha a informação.

Os moradores de Joinville, devem tomar cuidado e ter precaução redobrada para não contraírem a dengue, pois a negligência e a incompetência na gestão pública andam de mãos dadas em nossa cidade.

*Sociólogo, mestre em Ciências Sociais, pesquisador em temas de políticas públicas. Coautor do livro Indicadores de Desenvolvimento do estado de Santa Catarina no Século XXI, em parceria com Prof. Dr. José Roberto Paludo. (2020). É diretor da Consultoria Usideias – Usina Ideias e Projetos, que desenvolveu o Sistema Participativo de Gestão Estratégica.

[1] Fonte: SINAN – Vigilância Epidemiológica

[2] https://www.joinville.sc.gov.br/noticias/joinville-dispensa-obrigatoriedade-da-vacina-da-covid-19-para-matricula-em-escolas-e-ceis/

[3] https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2024/02/15/stf-suspende-decretos-municipais-sc-vacina-covid.ghtml

[4] https://dive.sc.gov.br/index.php/dengue

[5] https://dive.sc.gov.br/phocadownload/doencas-agravos/Dengue/Informes/2024/Informe-epidemiologico-dengue-sc-12-2024.pdf

[6] https://dive.sc.gov.br/phocadownload/doencas-agravos/Dengue/Informes/2024/Informe-epidemiologico-dengue-sc-13-2024.att.pdf

[7] https://www.instagram.com/p/CqWcGaqvIqJ/

 

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