Tradução de Elissandro Santana, para Desacato.info.
Entrevista de novembro de 2015, de Resumen Latinoamericano.
Mariela Castro é filha do primeiro mandatário cubano Raúl Castro e é também a principal promotora da promulgação de uma lei de casamento igualitário para a ilha. Do Centro Nacional de Educação Sexual de Cuba (Cenesex), que dirige há 15 anos, também conduziu uma reforma na lei trabalhista para eliminar a discriminação por orientação sexual e foi responsável por uma política efetiva para a prevenção do HIV. Castro relatou o processo de mudança e disse: “Falemos de uma lei de igualdade de oportunidades, porque a palavra casamento ainda gera muitas emoções.”.
Em que consiste seu modelo de educação sexual?
A sexualidade sempre esteve marcada por relações de poder e por ideias, leis e doutrinas baseadas nessas relações. Nem sempre ficou claro como mudar esse paradigma. Agora, felizmente, é possível. Nosso enfoque na educação sexual busca mostrar de que forma se foi criando essa diferença em detrimento de outras identidades de gênero e sexuais.
Será que a posição social segue sendo o princípio norteador?
Não é a única, porém, é a chave. Porque não ocorre o mesmo com um homem gay pobre e um rico; um transgênero migrante e um branco. Na formação que fazemos com ativistas, trabalhamos esses entrecruzamentos e fomentamos a solidariedade. Por exemplo, com os ativistas LGTBs trabalhamos para que não se centrem neles mesmos, que não se situem como únicas vítimas. Pedimos para que se articulem com outras causas justas e com toda a sociedade cubana. Não há sentido em se isolar, se segregar.
A Revolução era muito conservadora nestes pontos. Como conseguiram transformar esta característica?
Eu gosto de falar deste tema; não me resulta incômodo. Ao contrário, me permite explicar nosso ponto de vista e reconhecer o que há para reconhecer. Todo o mundo queria que a primeira Revolução da América Latina fosse perfeita, porém, não foi. Os povos que desejam fazer revoluções compreenderão. Não se pode saber tudo; cometem-se erros. Meu pai sempre me dizia: “Foi um salto ao abismo Queríamos fazer justiça, mas não sabíamos como se fazia.” Não sabíamos como governar revolucionariamente, porque não é o mesmo que ser revolucionário. É uma geração que tem feito um grande esforço, que merece respeito, não podemos ignorar. Porque o novo e o renovador acreditam que sempre tem as melhores respostas, porém, as ideias biológicas ou patologizadoras também foram vanguardas.
Esta mudança implicou uma renovação?
Claro. O dia em que a Revolução deixar de renovar-se já não será uma revolução. Nestas questões se trabalhava para a revolução, porém, não se conseguia porque não tínhamos todas as ferramentas. Tivemos que questionar, estudar e refletir muito.
Quais foram os principais obstáculos?
Os preconceitos que aprendemos de nossos ancestrais espanhóis e africanos também, e que estavam no mundo inteiro. Esses preconceitos não ajudaram para que se definisse uma política clara. Reflexões foram propostas, mas nenhuma proposta.
Qual é a situação dos direitos das mulheres na Cuba atual?
A coisa boa é que as mulheres estão organizadas e isso dá muita força. Há muitas campanhas, programas de televisão e rádio, espaços científicos… Tem-se trabalhado no empoderamento e hoje somos o terceiro ou quarto país com a maior presença de mulheres parlamentares. Há maior número de graduadas; há paridade salarial desde 1959… Nós não temos, por exemplo, feminicídios. Cuba não é um país violento e isso, sim, é resultado da Revolução.
E a prostituição?
Não a consideramos trabalho porque em Cuba existem outras opções. No entanto, há perseguição ao alcoviteiro. Há muitas coisas que influenciam e há que se tratar isso cuidadosamente para não estigmatizar.
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Fonte: Atalaya Roja.