Entre mercado e a fome, governo Bolsonaro não sinaliza para políticas sociais

Dieese afirma que atual gestão desmontou área social e deixa população sem respaldo

Demora para apresentação do Auxílio Brasil é a demonstração que o governo não sabe se continua trabalhando sob a batuta do mercado ou melhora sua desgastada imagem com a população. (Photo by MAURO PIMENTEL / AFP)

Sob pressão do mercado e sem apoio da população, o governo Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, não apresentaram ainda o programa Auxílio Brasil, que viria a ser o substituto do Bolsa Família. Sem programas e políticas sociais, o governo federal deixa a população sem respaldo, com mais da metade dos brasileiros vivendo com insegurança alimentar.

De acordo com a análise do diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, a demora para apresentação do Auxílio Brasil é a demonstração que o governo não sabe se continua trabalhando sob a batuta do mercado ou melhora sua desgastada imagem com a população.

“É uma novela que dura meses. O governo tenta implantar uma política para melhorar sua imagem perante a população, ao mesmo tempo que o mercado impõe um limite ao Estado, desde 2016, o que amarra as ações sociais. Entretanto, o mercado e o atual governo andam lado a lado há bastante tempo, retirando direitos de trabalhadores, com as reformas que retiram direitos sociais. Porém, o governo se deu conta de que não dá para vencer a eleição com a população passando fome e gerou essas tensões”, afirmou Fausto à Rádio Brasil Atual.

O governo Bolsonaro cancelou, na última terça-feira (19), o lançamento do chamado Auxílio Brasil. A indecisão se deu em função da falta de consenso em relação ao valor do benefício que deve substituir o Bolsa Família, programa que completa 18 anos. Além disso, houve reação histérica dos agentes do mercado financeiro, que não aceitam que os gastos com o novo programa ultrapassem o teto de gastos.

Desmonte social

Fausto Augusto critica a extinção do Bolsa Família sem programa substituto. Ele afirma que o programa não era só um projeto de um partido, implantado nos governos petistas, mas que colocou a fome como um problema a ser equacionado no Brasil e a segurança alimentar tornou-se um direito social.

Bolsa Família é uma política de Estado, mas vimos o governo Bolsonaro destruir a previdência, o Estado e a tributação. O chamado Abono Brasil também é uma dessas maneiras de desconstruir o legado do Bolsa Família. Vamos lembrar que ainda estamos numa pandemia, com a economia desorganizada pelo próprio governo. Por isso, uma política social é necessária para respaldar a população e garantir a segurança alimentar. O atual governo não tem política alguma, apenas de desconstrução de direito”, defendeu o especialista do Dieese.

Com o desmonte total da área social, desde 2016, Fausto acrescenta que um novo governo eleito em 2022 enfrentará dificuldades para recuperar o país e precisará colocar a renda como principal foco. Lidar com a desigualdade é um projeto de longo prazo. Houvemos um período de distribuição de renda e desenvolvimento econômico, entre 2002 e 2015, que reorganizou toda a assistência social. A valorização do salário mínimo é um exemplo disso. Desde 2016, a vida das pessoas deixou de melhorar e a questão da renda precisa estar ao centro do debate”, acrescentou.

O diretor técnico também ironizou o fato do governo federal ameaçar mexer na questão fiscal sem alterar o teto de gastos e comparou com as implicações sofridas pela ex-presidenta Dilma Rousseff. “É inegável que vai gastar mais do que disse que iria. Vamos lembrar que essa contabilidade criativa de ajustes das contas que a Dilma sofreu o golpe de 2016. Agora, vemos mais uma vez e ninguém falando sobre responsabilidade fiscal e impeachment.”

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