Administrar melhor as despesas pessoais, iniciar uma poupança e ser agente multiplicador de uma atitude financeira saudável são alguns dos avanços observados no comportamento de estudantes do ensino médio que participaram de um programa piloto de educação financeira em 450 escolas do país. Os resultados da ação, desenvolvida em 2008 pelo Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef), demonstram os benefícios de uma política que trabalhe esse tema de forma transversal nas escolas.
A avaliação dos alunos apontou que 63% dos jovens que tiveram as aulas pouparam pelo menos uma parte de sua renda. O percentual cai para 59% no caso de estudantes que não participaram do projeto – alunos de 450 escolas que foram selecionados para funcionar como grupo controle. “Os resultados foram muito significativos. Os jovens [participantes do projeto] saíram com um conhecimento muito superior em relação ao grupo controle. Eles transformaram conhecimento em atitude”, destaca Silvia Morais, superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF).
São esses avanços que a associação espera replicar em um projeto piloto com 820 escolas do ensino fundamental. “Percebemos que o tema da educação financeira não é aplicável exclusivamente ao ensino médio. Nessa fase, você já vai para o dia a dia do aluno, são situações práticas. Se você trabalha a educação financeira desde os anos iniciais, você possibilita que o conteúdo seja incorporado à vida dessa criança”, avalia Silvia. Ela informou que o material pedagógico composto de nove livros, construído em parceria com o Ministério da Educação (MEC), está em fase de finalização.
“Ainda não há previsão de quando devemos implementar a impressão dos livros e a capacitação dos professores, porque dependemos do financiamento de parceiros”, explica. Em relação ao projeto desenvolvido como piloto para o ensino médio, Silvia Morais informa que uma parceria com o MEC vai possibilitar a distribuição dos livros para 3 mil unidades que desenvolvem os programas Ensino Médio Inovador e Mais Educação. “Devemos iniciar a capacitação dos professores no próximo ano.”
A superintendente acredita que educação financeira deve ser entendida como um tema estratégico para o país, especialmente considerando a atual conjuntura econômica. “O momento pede que o cidadão brasileiro saiba tomar decisões conscientes quanto à tomada de crédito e quanto ao planejamento do seu futuro. Historicamente, somos uma nação que toma decisões pautadas pelo presente. A educação financeira permite que tenhamos capacidade de colocar os aprimoramentos que o sistema financeiro oferece a nosso favor e não contra”, avalia.
Silvia Morais destaca ainda que a discussão financeira nas escolas propõe o debate sobre consumo sustentável. “Não falamos só sobre o impacto das decisões deles, por exemplo, no crédito, no endividamento. A educação financeira tem a ver com as decisões da vida de um cidadão, mas não só. A forma de consumo tem impacto também no meio ambiente”, aponta. Esse é um dos motivos que leva a associação a defender a adoção do tema como conteúdo transversal nas escolas. “Ele fortalece outras disciplinas. É um elemento desencadeador de diversas discussões”, defende.
A AEF é um organização sem fins lucrativos criada pelas quatro entidades do mercado financeiro que compõem o Conef. Além de oito organismos governamentais, compõem o comitê: Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa), Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg) e Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
“A Estratégia Nacional [de Educação Financeira, Enef, criada em 2010 pelo Decreto nº 7.397] é um documento que fala que a educação financeira tem três pilares estratégicos de atuação: informação, orientação e formação. Mas não indica projetos”, explica a superintendente. De acordo com ela, os projetos da AEF são submetidos ao Conef, que os avalia. “Firmamos um convênio com o comitê e assumimos a responsabilidade de execução da Enef”, informa.
Além dos projetos nas escolas, a AEF pretende mapear as iniciativas gratuitas de educação financeira nas escolas. “Conseguimos identificar 150 iniciativas no país. Isso foi o que conseguimos com o nosso radar, digamos assim, mas temos certeza de que é muito mais do que isso”, diz Silvia Morais. Ela destacou que, nessa primeira análise, observou-se um número maior de instituições de governo e do setor financeiro. “O que a gente quer ver agora é para além disso, quem é mais que está oferecendo ações e atividades de educação financeira gratuitas”, explica.
A primeira etapa do mapeamento consiste em analisar em profundidade essas experiências já selecionadas. “Queremos saber o que faz, como faz, com que qualidade técnica, qual o perfil de profissionais envolvidos, para qual público”, exemplifica. Em seguida, será divulgado um cadastramento online desse tipo de iniciativas. “A partir daí, vamos poder fazer uma análise do que isso significa: são muitas? São poucas? Como podemos avançar?”, completa.
Fonte: Agência Brasil.