Por Lidiane Ramos Leal, para Desacato.info
Por volta das 8h30, chegamos em frente a um posto de combustível, localizado as margens da BR 101 km 232 na Enseada do Brito, sul de Palhoça/SC. Ali foi marcada uma paralisação da rodovia pelos moradores, com início às 9 horas. Aos poucos, os moradores foram chegando e com a expressão preocupada foram constituindo uma aglomeração. Bastaram alguns minutos para reunir aproximadamente mil pessoas. Exatamente às 9 horas, conforme combinado, com o apoio da Polícia Rodoviária, começaram a bloquear as pistas nos dois sentidos da BR 101. Durante uma hora os manifestantes reivindicaram para não serem expulsos de suas terras.
Os manifestantes diziam que 65 famílias foram notificadas que deveriam deixar suas casas, pois foi realizada uma demarcação com o propósito de tornar aquela região uma terra habitada por indígenas.
Em conversa com uma moradora, a senhora Maria Terezinha Sebastião (48), que vive há 32 anos no bairro, nos mostra a escritura pública de seu terreno e argumenta “os índios não têm culpa, mas a gente também não, a gente trabalha a vida toda para ter o terreno, a casa e agora fica jogado sem ter onde morar”.
Cleber Castelano (43), vice-presidente do Conselho Comunitário de Segurança Cambirela, CONSEG, diz “a água que todo povo da Enseada usa vem do morro, direto da cachoeira, pois é área de preservação, e com a ocupação dos indígenas não teremos mais como usar”. E questiona, “como os indígenas podem habitar uma área de preservação?”.
Daniela Maria dos Santos (36), moradora nativa da Enseada do Brito, com indignação nos afirma “sou neta e filha de pescador, com essa demarcação a gente não tá perdendo só a nossa casa, estamos perdendo a cultura, as referências, estamos perdendo a vida” e completa, “meu tio Manoel, tem 89 anos e sempre fala que nunca tiveram índios nessa região”.
Durante a manifestação alguns moradores lembraram dos índios que residem no Morro dos Cavalos e afirmam que sempre mantiveram uma boa relação com eles, e ainda falaram das dificuldades que os índios enfrentam para sobreviverem naquela aldeia, já que não têm a necessária assistência da Fundação Nacional do Índio – FUNAI. Ainda trouxeram a informação de que já ocorreram alguns acidentes fatais com os índios daquela aldeia por conta do tráfego da BR 101. A todo momento os manifestantes enfatizam que a luta não é contra os índios e sim conta a FUNAI e algumas ONGs, que estão indiscriminadamente ferindo as identidades dos moradores da Enseada.
Fotos: Lidiane Ramos Leal e Amadeu Leal.
muito bom seu artigo! tenho pena dos moradores que batalharam para ter suas casas e agora correm risco de ficar sem onde morar, as autoridades competentes devem buscar alternativas que não prejudiquem as famílias e nem os índios daquela região.
muito bom seu artigo! tenho pena dos moradores que batalharam para ter suas casas e agora correm risco de ficar sem onde morar.