Por Moisés Mendes.
Os uruguaios não param de encontrar cadáveres e identificar os assassinos da ditadura dos anos 70 e 80, enquanto no Brasil os torturadores são elogiados por quem está no poder.
Agora, as informações que estão impactando o país e não saem das capas dos jornais tratam das confissões do coronel reformado Gilberto Vázquez (na foto maior).
Vázquez confessou participação em torturas e no desaparecimento de inimigos da ditadura diante de um tribunal militar.
A confissão foi feita em 2006, mas só agora as atas foram divulgadas.
As revelações se juntam ao fechamento do cerco contra o general reformado e atual senador Guido Manini Ríos.
Manini Ríos está sob a ameaça de perder o mandato por ter ocultado informações que sabia da ação de criminosos da ditadura.
O general foi candidato a presidente nas últimas eleições, pelo partido Cabildo Abierto, mas não deu certo como o Bolsonaro do Uruguai. Teve apenas 11% dos votos no primeiro turno.
Manini Rios é da extrema direita, com um complicador. A acusação contra ele, de ocultação de informações mais recentes sobre a morte de um militante de esquerda, em 1973, envolve seu período como chefe do Exército da Frente Ampla, entre 2015 e 2019, no governo de Tabaré Vázquez, da Frente Ampla.
A situação do torturador Gilberto Vázquez (que não teria parentesco com o ex-presidente) também é complicada, porque sua confissão foi feita em 2006.
Tabaré também era presidente em 2006. A pergunta é: ficou sabendo da confissão? Ou sabia e não informou nada à Justiça Comum?
As torturas e assassinatos durante o regime militar são considerados imprescritíveis, como crime de lesa humanidade.
O delito de ocultação de informações de crimes da ditadura é considerado grave no Uruguai. Mas os uruguaios, mesmo que menos do que os argentinos, não temem mexer na sua História.
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