Faz alguns anos, um professor universitário da região disse, baseado em uma série de autores da ciência política, a seus alunos que ao fazerem públicas suas visões, opiniões e até mesmos seus estudos científicos, estariam apostando sua “sorte” num jogo político, onde poderiam ser compreendidos e apoiados (de acordo com a base do público receptor) ou ter que pagar o preço pela liberdade de dizer coisas que possam atingir quem está envolvido com o tema em questão.
Para com as palavras, em ano eleitoral, qualquer colocação em tom de faísca, pode virar fogo a favor ou contra aos personagens do jogo, que se unem e separam com o estralar dos dedos. Nós pagamos o preço disso e vale lembrar que os fogos de artifício brilham por tempo determinado, como o efeito mais chamativo de parte de um espetáculo, que neste caso nem sempre resulta ser tão bonito como os que a nossa sociedade realiza a cada final e início de ano. Após restar apenas a fumaça do fogo eleitoral, na medida em que esta subir, as questões “partidárias de poder” serão novamente identificáveis em suas desavenças e lutas, não mais remediadas em nome do eleitor, como sucedem nas eleições por detrás do discurso de “união”.
Expressar apoio ou crítica aos candidatos é tornar-se integrante do jogo. O que não é o caso da maioria da população, que uma utopia não seria necessariamente integrantes e sim agentes políticos, organizados e atuantes.
Nesse contexto é possível que o eleitor, com o passar dos anos sinta-se perdido, frente ao cenário eleitoral, cada vez mais frágil eticamente. No entanto, não existem métodos certeiros para que possamos garantir nosso voto com a melhor opção, mas nossa participação faz diferença e por isso é importante nesses momentos o exercício da reflexão, ao menos nas sociedades de regime democrático.
Em geral é muito difícil identificar todas as ações dos candidatos, já que é tarefa um tanto impossível acompanhar cada passo dos mesmos, por isso talvez seja mais adequado pensar e fazer perguntas a nós mesmos e à medida que estas forem respondidas por nossa memória e percepção, identificar que tipo de ações, melhor nos representa nas urnas, além das expectativas ideológicas, que já provaram serem em parte negociadas.
Se analisarmos candidatos novos, é interessante perguntarmos quem são como e o que fizeram para a comunidade, se tem determinação, ideais, a que se propõem e o contato destes com a população, além da nossa projeção ao novo. Se forem conhecidos do meio político, agregar a estas, nossa satisfação ou não, com o que presenciamos diariamente no passar dos anos, nos serviços públicos (condições aos trabalhadores e resultados) na infra-estrutura, nos programas sociais, transporte público, empresas públicas, etc. Se conseguirmos recordar de quatro anos atrás e refletirmos de forma simples, é possível marcar em uma tabela dividida em setores, pontos positivos e negativos em sua parte superior e em uma das laterais os nomes dos candidatos, para então escrevemos na intersecção o que está interiorizado em nossa vivencia referente aos pontos significativos da vida pública. Como o exemplo abaixo:
Mais que identificar quem receberá mais pontos positivos e negativos e com o que estamos e com o que não satisfeitos, o exercício nos fará refletir sobre o que iremos fazer em Outubro, teremos alguma opção, branca, nula ou escolhermos algum, se for à última, a quem? Sabemos o que tem feito, o que propõem fazer e a ideologia política, religiosa ou financeira é relevante?
O exercício da comparação possibilita identificarmos algumas coisas que tendemos a esquecer ou ignorar na hora de apertar o botão verde.
Mesmo que isso não garanta a eficácia da política, que nunca será precisa devido ao caráter mutável que a ordena, pelo menos nos trará o conforto de que paramos para pensar, sobre nossa contribuição para o que é de nosso interesse, ou que deveria ser. Nesse momento em diante, provavelmente nos sentiremos mais integrados com o mínimo que a nós é implicado diretamente a política (não politicagem) e sem manchar nossa consciência, poderemos nos basear argumentativamente de forma digna sobre nossas escolhas, afinal serão quatro anos de legitimidade, em troca de cinco “minutinhos” e um dedo indicador.
Victor Caglioni é sociólogo e mora em Buenos Aires, Argentina.