Por Rosangela Bion de Assis, para Desacato.info.
Amanhã é quinta, preciso escrever a poesia da semana.
Ouvi as palavras mágicas:
– Eu tenho um sonho.
Bem ali onde a Deodoro e a Conselheiro Mafra se abraçam fraternalmente permitindo bancos de concreto, carro com biscoitos, artesanato e até um pastor.
– É impossível viver sem um. Dê uma chance para esse jovem pregador. Estou atendendo em três endereços.
Sentei para esperar a poesia, o homem do lado desconfiou.
Tentei tocar o outono
Ele me abraçou calorosamente.
O fundo musical é de uma flauta acompanhada eletronicamente,
bem outonal.
O jovem pastor diz que não quer atrapalhar as pessoas
– Minha luta é contra os maus espíritos.
Refletindo sobre a coerência da frase sou cortada por uma turma de pequenos uniformizados, a professora apavorada com a unidade do grupo.
A unidade sempre é o maior desafio.
Será que a poesia esqueceu de mim?
Procuro por ela e só vejo senhores sentados nos bancos com seus chapéus e bonés.
A rua é tão masculina.
O vento fresco em rajadas me chama.
Sigo seu chamado, a poesia esqueceu de mim.
Deve estar irritada com essa obrigação, com data e hora marcada,
preciso explicar, com todo amor que tenho por ela
Sem organização, não iremos para lugar nenhum.
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[avatar user=”Rosangela Bion de Assis” size=”thumbnail” align=”left” link=”attachment” target=”_blank” /]Rosangela Bion de Assis é jornalista, poetisa e presidenta da Cooperativa Comunicacional Sul.