Por Caroline Nunes e Elias Santana Malê, para Alma Preta Jornalismo.
No último sábado, 19 de novembro, se comemorou o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino. Apesar da herança ancestral empreendedora, que as mulheres negras exercem desde o pós-abolição, o Brasil precisa avançar em questões de inclusão e valorização da mulher negra, seja no mercado de trabalho formal ou no empreendedorismo.
De acordo com os dados do relatório Diversidade, Representatividade e Percepção – Censo Multissetorial 2022 da Gestão Kairós, 25% da liderança das empresas (nível gerente e acima) são mulheres e 17% são negros (14% pardos e 3% de pretos). Entretanto, no que tange às mulheres negras, o percentual cai para 3%.
“Esse número confirma uma grande sub-representatividade de profissionais negras em cargos de gerente acima, o que é aproximadamente 32 vezes menor que o número de mulheres brancas (95%) nas empresas, sendo que o percentual de mulheres pardas (2%) é o dobro do de mulheres pretas (1%), o que sugere também uma ausência marcada de mulheres pretas”, explica Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós – Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade.
Brancos ainda ocupam maior parte dos cargos de liderança
O estudo inédito analisou informações consolidadas de setores industriais como Mineração, Metalurgia, Agronegócio e Automotivo, mas também Mercado Financeiro, Atacado e Varejo. Foram mais de 26 mil respondentes, em 12 estados brasileiros mais o Distrito Federal, e 23% do território latino-americano (8 países da América Latina mais os Estados Unidos).
Os dados apontam que profissionais brancos são sobrerrepresentados em pelo menos 35% da liderança (da gerência em diante), uma vez que brancos (homens e mulheres) são 43% da população brasileira. Além disso, as mulheres brancas também são sobrerrepresentadas em 72%, uma vez que representam hoje 23% da população nacional. Do total de 25% de mulheres líderes, 95% delas são mulheres brancas.
“Exatamente por conta dessa lacuna de oportunidades para as mulheres negras, afinal, até as que conseguem entrar no mercado formal têm poucas oportunidades para ascender e ocupar cargos de liderança nas organizações, é que cada vez mais os números do empreendedorismo feminino negro aumentam no Brasil”, diz o estudo.
Dificuldades
O relatório do Sebrae sobre empreendedorismo negro de 2019 aponta que, no Brasil, 9,6 milhões de mulheres estão à frente de um negócio, sendo que as mulheres negras representam metade desse número, ou seja, cerca de 4,7 milhões.
“As mulheres negras são uma potência no empreendedorismo, porém, muitas enfrentam mais dificuldades do que outras empreendedoras como o acesso ao crédito para investirem no crescimento de suas empresas”, enfatiza Liliane Rocha.
Segundo a 13ª Pesquisa de Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), 76% das empreendedoras negras tiveram perda de faturamento no período.
“Isso se explica porque grande parte dos negócios de mulheres negras necessita de atuação presencial, então durante o auge da pandemia com a necessidade de isolamento social, muitas não conseguiram trabalhar remotamente”, explica Liliane Rocha.
Além disso, a grande maioria de profissionais que compõem a empresa – 75% de homens e 76% de brancos – apontam uma percepção que não corresponde com os dados percentuais demográficos que trazem uma lacuna expoente de representatividade de mulheres negras.
“Para o total de profissionais que alegaram já ter conhecimento, ou até mesmo já ter sofrido discriminação e ou preconceito dentro das empresas, 21% dos relatos referem-se a questões raciais, inclusive este tema aparece nos top 3 temas que mais pontuaram no ranking, entre outros temas de diversidade”, demonstra a executiva da Gestão Kairós.