Empoderamento feminino e desenvolvimento

Por Diego Arguedas Ortiz

São José, Costa Rica, 18/7/2016 – A inclusão das mulheres no modelo de desenvolvimento latino-americano, com maior participação no mercado de trabalho e melhores condições salariais, contribuiu decisivamente para reduzir a pobreza extrema na região. Além disso, traça um mapa do caminho para as dívidas em matéria de gênero que ainda existem na América Latina e no resto do mundo.

Foi o que determinou a segunda sessão do Painel de Alto Nível do Secretário-Geral das Nações Unidas para o Empoderamento das Mulheres, que reuniu, na capital da Costa Rica, entre os dias 13 e 15 deste mês, 15 líderes de vários continentes, com o objetivo de trocarem experiências positivas para maior autonomia econômica da população feminina.

“Se as mulheres tivessem mantido a condição dos anos 1990, a pobreza extrema hoje estaria em torno dos 30%, e não dos 12% como agora”, afirmou a brasileira Luiza Carvalho, diretora regional da ONU Mulheres para as Américas e o Caribe. Assim ela se referiu a indicadores regionais de empoderamento econômico, como o aumento de mulheres no mercado de trabalho, que passou de uma participação de 40% das mulheres, em 1990, para 55% atualmente, o maior aumento entre as regiões do mundo.

Para Carvalho, é uma estatística que traz esperança para enfrentar os muitos desafios pendentes em matéria de igualdade de gênero “Vemos esses avanços somente como um ponto a partir do qual devemos avançar. Ainda não estamos onde queremos”, afirmou.A segunda sessão do Painel de Alto Nível, fórum criado em março pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, enfatizou especialmente a região latino-americana, embora seu olhar fosse mundial.

O Painel está integrado por influentes líderes de governos, setores privado e acadêmico, e sociedade civil, sendo copresidido por Simona Scarpaleggia, presidente executiva da empresa Ikea Suíça, e pelo presidente da Costa Rica, Luis Guillerrmo Solís. Ainda este ano o painel apresentará suas recomendações ao secretário-geral.Carvalho recordou que as mulheres da região ainda estão sub-representadas em setores científicos e tecnológicos e que a violência contra a mulher na América Latina continua sendo a mais alta do mundo.

Em nível mundial, os salários das mulheres são 24% inferiores aos dos seus colegas homens, elas fazem duas vezes e meia mais trabalhos de cuidados e domésticosnão remunerados do que eles, e têm uma presença desproporcional nos escritórios e de apoio (63%) em comparação com os cargos de gestão (33%).Durante o Painel a diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, pediu que sejam as próprias mulheres a indicar as áreas em que a economia as impacta mais e nas quais se sentem limitadas.

“Que sejam as mulheres a nos dizerem como consideram que os governos poderiam facilitar esses processos para elas”, apontou Mlambo-Ngcuka, de nacionalidade sul-africana e que também é secretária-geral adjunta da ONU. Apesar de pequenos triunfos em matéria de participação da mulher, a região latino-americana ainda “tem um bom número de desafios. Podemos aprender tanto com desafios como com êxitos”, destacou.

Em geral, o empoderamento econômico é um requisito necessário para se alcançar uma verdadeira igualdade de gênero em nível global, e as persistentes brechas em matéria de participação trabalhista, salário igual e retribuição por serviços no âmbito privado dificultam esse avanço, insistiram as participantes do Painel. Conseguir a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas é o quinto dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

No entanto, as líderes reunidas em São José destacaram que se trata de um objetivo que permeia todos os demais. “O empoderamento econômico das mulheres é condição imprescindível para atingir os objetivos desta agenda”, ressaltou Carvalho.Mas os mecanismos para isso ainda estão longe de serem os desejados e, por isso, foi necessária a criação do Painel de Alto Nível, explicou Scarpaleggia. “O ritmo para alcançar a meta (de número 5) até 2030 é muito lento e por isso necessitamos acelerar e adotar ações. Se mantivermos esse passo, demorará cem anos”, enfatizou.

Para a executivada Ikea, um grupo multinacional de fabricação e venda de móveis e objetos para o lar, sobram os argumentos econômicos para incluir as mulheres e conseguir a paridade 50-50. “As companhias podem fazer muito para cumprir essa meta. A Ikea, por exemplo, tem um objetivo de conseguir uma composição de 50-50 em posições de liderança até 2020. Na Ikea Suíça já chegamos a essa meta!”, comemorou.

De fato, um estudo divulgado em 2015 pela consultoria McKinsey afirma que uma maior incorporação da mulher no mercado de trabalho pode aumentar anualmente o produto interno bruto global entre 12% e 26% ao ano a partir de 2025. Isso significaria entre US$ 12 trilhões e US$ 28 trilhões adicionais. O amplo arco do incremento se deve a duas opções propostas pelo estudo: o aumento menor ocorreria se cada região alcançasse o país mais avançado em igualdade de gênero, enquanto o cenário superior propõe que a porcentagem de mulheres no mercado de trabalho seja igual à dos homens.

Em escala mundial, 75% dos homens em idade de trabalhar são parte da população ativa, contra 50% no caso das mulheres em idade de trabalhar, segundo o informe O Progresso das Mulheres no Mundo 2015-2016: Transformar as Economias Para Realizar os Direitos, apresentado no encontro.“Nossas economias, além de estarem paralisadas, têm um problema de inclusão. Isso significa que nossos países estão desperdiçando cerca de 50% do talento das mulheres”, alertou Alejandra Mora, ministra da Condição da Mulher da Costa Rica.

Mora explicou que um empoderamento econômico imediatamente influi em outros setores da vida das mulheres. “Uma mulher com capital que permita satisfazer suas necessidades básicas pode pôr fim a agressões abusivas de violência, à falta de controle do corpo”.Na América Latina, 29% das mulheres não tinham acesso a renda própria em 2013, contra 13% dos homens. As especialistas foram claras em afirmar que o emprego por si não basta, e é necessário que seja trabalho remunerado e de qualidade.

Também destacaram que 59% dos empregos das mulheres na região são informais, sem legislação trabalhista, nem proteção social.Para garantir isso é crítico o campo do trabalho doméstico remunerado, que representa 17% do emprego feminino na América Latina. Dos 22 países que ratificaram o Convênio 189 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que regula os direitos dessas trabalhadoras, 12 são da região. Envolverde/IPS

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Fonte: IPS

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