Com o discurso da “antipolítica”, pelo qual demonizou instituições e partidos, Jair Bolsonaro foi eleito em 2018 por uma enorme massa de eleitores desencantados com o chamado “toma lá, dá cá” da política. Um fenômeno semelhante ao ocorrido nos Estados Unidos de Donald Trump, na Hungria e na Polônia. Dois anos depois, o presidente de extrema-direita usa sem parcimônia os mesmos artifícios que alegou que jamais usaria. Caso da distribuição de verbas e da “compra” de votos dos parlamentares, prática que dizia combater e que o faz prestes a eleger seu indicado, Arthur Lira (PP-AL), na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados.
Lira tem o apoio de 11 partidos: PP, PSD, PL, PSL, Avante, Patriota, Podemos, Republicanos, PSC, PTB e Pros, num total de 236 deputados. Rossi, indicado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) é apoiado por dez: PT, MDB, PSB, PSDB, PDT, SD, PCdoB, Cidadania, PV e Rede, com 210 deputados. O DEM declarou, no fim de semana, que decidiu deixar o bloco de apoio a Baleia Rossi.
“Prioridade: comprar deputados”
“O auxílio emergencial não foi prorrogado. A prioridade do presidente é comprar deputados”, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), no Twitter, no domingo (31). O líder do PT na Câmara, Enio Verri, Bolsonaro reverberou informações de bastidores e postou que o presidente “cogita abrir três ministérios e ofereceu R$ 20 bilhões em emendas, se o candidato dele for eleito, mas não há verba para auxílio emergencial”.
Rodrigo Maia denunciou no sábado (30), com foto, que as faixas de apoio ao seu candidato foram destruídas na Esplanada dos Ministérios. “Isso tem nome: fascismo. E é contra esse tipo de atitude e de gente que estamos unidos. Se os bolsonaristas estão tão confiantes com a vitória do candidato do Bolsonaro, por que agem assim?”, questionou o presidente da Casa no Twitter. Se o aparente favoritismo de Lira for confirmado, a vitória de Lira coloca em xeque a independência do Legislativo. Mais que isso, pode ser uma pá de cal à ideia do impeachment e ameaça uma série de direitos da população, já que a Câmara terá o comando de um tutelado do Planalto.
Inconformado com o abandono de seu candidato na eleição da Câmara e com a traição de seu próprio partido, Maia chegou a ameaçar a dar andamento a um dos inúmeros processos de impeachment contra Bolsonaro. Mas foi aconselhado por correligionários e aliados, e também pressionado pelo mercado, e recuou. A ideia, além de não ter futuro, seria “lida” como mera vingança.
Maia covarde
Derrotado inapelavelmente e traído, o deputado deve deixar o DEM, migrando, possivelmente, para o PSDB. Os tucanos, que, a exemplo do DEM, estavam prestes a abandonar o barco de Baleia Rossi, voltaram atrás e decidiram ficar no bloco do emedebista. Se confirmada, a derrota de Maia será amarga. O termo “covarde”, em referência a ele, ficou entre os trending topics do Twitter durante boa parte desta segunda-feira (1°).
Segundo levantamento d’O Estado de S. Paulo, Bolsonaro contemplou deputados com R$ 504 milhões em emendas parlamentares até o último dia 26, às vésperas das eleições, volume recorde em um mês de janeiro. Fora as verbas em emendas, ainda segundo o jornal, deputados que mudaram o voto em Baleia Rossi (MDB-SP) e passaram a apoiar Lira foram premiados com recursos extras, do Ministério do Desenvolvimento Regional, num total de R$ 3 bilhões para seus redutos eleitorais.
Da lista divulgada pelo Estadão constam nove deputados do DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), entre os quais a deputada Tereza Cristina (MS), a quem coube R$ 24 milhões. Ela e Onyx Lorenzoni (DEM-RS) foram exonerados de seus ministérios (Agricultura e Cidadania, respectivamente) para votarem na eleição da Câmara. Serão reempossados logo depois. Os deputados aos quais coube maior volume de recursos foram Domingos Neto (PSD-CE), com R$ 170,9 milhões, e o próprio Arthur Lira, com R$ 114,6.
Senado
No Senado, o candidato Rodrigo Pacheco (DEM-MG) é favorito. Se sua vitória se confirmar, será uma vitória de Bolsonaro e também do presidente da Casa e do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Pacheco tem o apoio tanto de governistas quanto de partidos da oposição. O PT, por exemplo, se recusa a votar em Simone Tebet (MDB-MS), com sua candidatura “independente”, devido à posição lavajatista da senadora.
À tarde, os senadores Jorge Kajuru (Cidadania-GO) afirmou hoje que votará na concorrente e Major Olímpio (PSL-SP) desistiram de suas candidaturas pela votar em Simone. Caso se confirme, a eleição de Pacheco será