Em troca de mudança na Previdência, governo propõe aumento de benefícios a militares

Para economista, proposta revela que discurso de tratamento igualitário a setores sociais é falso.

Foto: Caroline Antunes

Por Leonardo Fernandes.

Para começar a análise do projeto de reforma da Previdência Social, uma das condições dadas ao governo pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJC) da Câmara dos Deputados foi a reforma do sistema previdenciário dos militares. No entanto, ela economizará menos do que se previa. Isso porque, junto com a proposta, o governo apresentou um plano de reestruturação da carreira militar que, na prática, devolve aos militares, principalmente os de mais alta patente, o recurso descontado para o sistema de previdência. 

A estimativa é que o governo economize R$ 97,3 bilhões em dez anos com as mudanças no sistema de proteção social dos militares das Forças Armadas, como é conhecido o sistema de previdência deles. Por outro lado, a reestruturação vai significar uma despesa de R$ 86,85 bilhões no mesmo período, ou seja, o corte de gastos será de R$ 10,45 bilhões em uma década.

Para o economista Guilherme Mello, a economia feita pela reforma da previdência dos militares será “ínfima”, se comparada ao valor da economia pretendida com o todo o sistema geral de previdência social.

“O governo é um governo de militares para militares. E o que eles fizeram foi atender a uma demanda antiga, aumentando os soldos em até mais de 30%. E com isso geraram uma despesa extra. E compensaram aumentando um pouco o tempo de contribuição, um pouco a alíquota de contribuição. E com isso gerou uma economia de R$ 10 bilhões ao longo de 10 anos. Essa economia de R$10 bilhões não é nem 1% da economia de R$ 1 trilhão que estava prevista. Então quer dizer, a contribuição dos militares vai ser ínfima”.

Soldo é o valor que o militar recebe pelo posto que ocupa, sem incluir as gratificações. Ao todo, o governo espera economizar cerca de R$ 1,05 trilhão em 10 anos com a reforma da Previdência, o que significa que a economia de gastos com a previdência dos militares representa apenas 0,99% da economia total promovida pela reforma. Segundo Mello, isso revela que o discurso de tratamento igualitário aos setores sociais na reforma previdenciária é falso.

“Quando você olha a composição da tal da economia, percebe que é uma economia em cima dos mais pobres. Isso poderia ser parcialmente revertido com a reforma dos militares. Porque os militares se aposentam com integralidade, ou seja, recebe o mesmo salário do último cargo da ativa e, se você olha o déficit que os militares gera, é mais da metade do déficit dos servidores públicos como um todo”, explica.

Alterações no plano de carreira

Caso o projeto seja aprovado no Congresso, os militares passarão a receber um “adicional de disponibilidade permanente”, que vai variar de 5% a 32% dos salários, sendo que os valores mais elevados serão destinados aos níveis mais altos da hierarquia. Ainda segundo o projeto, os militares poderão incrementar os salários após a realização de cursos de aprimoramento.

A título de exemplo, hoje, um militar que conclui um curso de doutorado recebe um adicional de 30% do salário. Com a mudança, esse percentual passa a 73%.

Somadas as gratificações atuais, os salários de generais, almirantes e tenentes-brigadeiros chegam a R$ 22.631,28. Com a proposta de reestruturação, devem subir para R$ 30.175,04, o que representa um aumento de 33,33%.

Outra medida que vai onerar ainda mais os cofres públicos diz respeito aos militares na reserva. Atualmente, quando o militar se retira da ativa, deixa de receber um benefício de 10% sobre o salário. Com a alteração, esse benefício será mantido para os inativos.

O projeto de reforma do sistema de previdência dos militares foi entregue ao Congresso Nacional na última quarta-feira (20) pelo próprio presidente da República, Jair Bolsonaro.

Repercussão no Congresso

Deputados e senadores de oposição e de partidos de centro lançaram nessa quarta-feira (20) uma Frente Parlamentar Mista em Defesa da Previdência Social. O grupo deve elaborar uma proposta de alteração das regras de aposentadoria que poderá ser discutida como alternativa à proposta do governo.

O deputado federal Paulo Teixeira (PT/SP), membro da CCJC da Câmara, se pronunciou em uma rede social: “O que o governo mandou foi um plano de carreira para os militares e não um plano de reforma da previdência para os militares”, escreveu.

Orlando Silva (PCdoB/SP), deputado membro suplente da CCJC, publicou: “O problema da reforma não é ser um gatinho com os poderosos, mas ser um leão contra os pobres. O grande embate é derrotar a Reforma que tira tudo de quem já não tem quase nada”.

Em sua conta no Twitter, o deputado Túlio Gadêlha (PDT/PE) também atacou a proposta de reforma do governo Bolsonaro. “O presidente tenta convencer a população que a Reforma da Previdência será igual para todos. Pede sacrifício aos trabalhadores celetistas e servidores públicos, mas dá um jeito de aliviar para os militares. Essa Reforma de Bolsonaro não tem condições de passar”, concluiu.

Segundo o jornal Folha de São Paulo, a equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro calcula que, caso a reforma fosse levada a votação hoje, teria o apoio de cerca de 180 deputados. Para a aprovação de um projeto de emenda à Constituição, como é o caso da reforma da Previdência, são necessários 308 votos, ou seja, dois terços da legislatura.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.