Liêdo Maranhão.
No meu tempo de colégio o automóvel era coisa de rico. Os colegas que possuíam carro moravam em Boa Viagem, Casa Forte, Derby e Espinheiro.
Dourado com o seu jeep era o amigo das horas certas e incertas. O jeep já era conhecido na zona. Malandro, boa pinta, ao mulherio dizia, fazendo o seu comercial:
– Nem tudo que reluz é ouro, mas quase sempre é Dourado.
Terminada a farra, depois de comer um chambaril, Dourado, eu e duas mulheres, saímos para tomar banho nu, na praia de Boa Viagem. Boa Viagem era uma praia nativa, cheia de coqueiros. Um paraíso. Suas areias brancas, na parte em que o mar não alcançava, eram cobertas de gitirana, um mato rasteiro que enrama muito.
Paramos o jeep no Corta Jaca. Tinha esse nome porque o governador Carlos de Lima Cavalcanti veraneava com sua família no local. Para bajular o governador, políticos e cupinchas aumentavam o cordão dos puxa-saco. Tiramos as roupas. Enrolei tudo com as calças e coloquei em cima da gitirana.
As mulheres nuas, correndo pra lá e pra cá, parecia um quadro de Botticelli.
De repente, mudou tudo! O tempo fechou-se e meu não achei a minha roupa. As mulheres com medo do toró que se anunciava, gritavam pelo meu nome e Dourado no jeep, buzinando, fazia coro com as mulheres:
– Liêdo, vamos! Deixa essa roupa aí!
Saltando na porta de casa, Dourado, todo sem graça, em voz baixa para não acordar os vizinhos, chamava por mamãe:
– Dona Ruth, abra a porta que Liêdo está nu!