Em SP, PM que mata jovem negro favelado cumpre uma política de Estado

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Quando um jovem negro, Freddie Gray, de 25 anos, foi morto por policiais em Baltimore, EUA, em 2014, provocando uma série de protestos violentos na cidade, o chefe do Departamento de Polícia da Cidade se manifestou, a prefeita da cidade se pronunciou (a polícia lá é atribuição do município) e até o presidente o Barack Obama falou sobre a tragédia e sobre onda de manifestações que se sucederam.

Na quarta-feira da semana passada, (27/05) um jovem negro, Lucas Custódio, 16 anos, foi morto por policiais em São Paulo, na favela Sucupira, no Grajaú, extremo sul da cidade de São Paulo. A Polícia Militar não se pronunciou, a Secretaria de Segurança pública não se pronunciou e o governador Geraldo Alckmin ficou calado.

Eu e meu colega na cobertura Luís Adorno enviamos cinco pedidos de resposta, de esclarecimento e de entrevista à Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública. Só um foi respondido, justamente o que não esperávamos. Enviado na madrugada do dia 28/05, seria bem compreensível que levassem tempo para responder, mas na mesma madrugada, uma mensagem informava educadamente que “em nome da transparência que lhe é peculiar” iria responder “dentro da razoabilidade” assim que dispusessem das informações.

Já se foram cinco dias. Nesse período, enviamos mais quatro mensagens. Silêncio.

É gritante a diferença  entre o tratamento que o governo do Estado de São Paulo deu à morte desse garoto, favelado, negro e a que deu ao assassinato de um jovem branco, de classe média, dois anos atrás.

Em 2013, ante a trágica morte de um universitário, de 19 anos, aluno da Cásper Líbero, branco, vítima de um assalto praticado por um adolescente de 17 anos, o governador Alckmin não apenas se pronunciou, como foi além: anunciou que encaminharia ao Congresso Nacional um projeto de lei para tornar o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) mais rígido em casos de violência cometidas por menores de 18 anos.

Menos de 10 dias depois, cumpriu a promessa. Foi até Brasília, a 1.000 km do Palácio Bandeirantes, entregar sua proposta. Ainda não pôs os pés no Grajaú. O percurso é de 26 km. Nenhuma palavra de conforto à família, nenhum pedido de desculpas por descumprir sua promessa de campanha.

É importante lembrar que na sua propaganda de TV para a reeleição, o governador Alckmin disse que colocou “a proteção da vida como prioridade número 1 da segurança pública”. Pelo jeito faltou dizer que não é a proteção da vida de qualquer pessoa.

Se fosse, a morte de um jovem favelado negro deveria motivar a mesma indignação do poder executivo que a morte de um jovem branco de classe média. Até mais profunda, porque foi o braço armado do Estado de São Paulo, cuja segurança tem como “prioridade a proteção à vida” que matou o rapaz, numa farsa grotesca montada por PMs que nem a própria Polícia Civil engoliu.

Até agora ninguém do governo se dignou a tentar dar uma explicação à família. Nem vai. A questão é que ela é impublicável, é indizível: a morte de negros por policiais em São Paulo é uma política de Estado.

Um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), coordenado pela socióloga Jacqueline Sinhoretto, mostra que entre 2010 e 2011, 61% das vítimas de mortes cometidas por policiais eram negras, 97% homens e 77% com idade entre 15 a 29 anos. Os policiais envolvidos são, em sua maioria, brancos (79%), sendo 96% da Polícia Militar.

Um dos policiais envolvidos na morte de Lucas, cabo Aparecido Domingues Vieira, da Força Tática, do 27o. BPM (Batalhão da Polícia Militar) tem em seu currículo quatro outros casos de participação em mortes em supostos confrontos desde 2003. Para espanto do próprio ouvidor das polícias de São Paulo, Julio Cesar Neves, ele permaneceu nas ruas.

Se os números mostram o genocídio contra a juventude negra, se seus assassinos permanecem nas ruas cometendo os mesmos crimes e se o governo se cala, é porque está tudo dentro dos conformes. Em São Paulo, PM que mata jovem negro favelado cumpre uma política de Estado.
Fonte: Geledés 

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