Em Santa Catarina, projeto protege ave ameaçada de extinção e gera renda em comunidade

Por Ana Paula Scorsin.

Comunidades familiares do município de Passos Maia, em Santa Catarina, no entorno do Parque Nacional das Araucárias, encontraram na união do artesanato com a conscientização ambiental uma fonte de renda extra. Depois de se envolverem com o projeto “Reintrodução do Papagaio-de-peito-roxo no Parque Nacional das Araucárias”, as mulheres da região, conhecidas como ‘Amigas dos Roxinhos’, aumentaram a renda familiar em 62%. Criada em 2013 pelo Instituto Espaço Silvestre, a iniciativa faz parte de um projeto maior de conservação, que tem apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

As participantes confeccionam e comercializam, na internet e em pontos turísticos da região, peças artesanais como camisetas, bolsas, aventais, chaveiros, lixeiras de carro, nécessaires e ímãs de geladeira. A renda das vendas é totalmente revertida às artesãs. O artesanato inspira-se no papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), na araucária (Araucaria angustifolia) – espécies nativas da região e classificadas, respectivamente, como em perigo e criticamente em perigo de extinção –, e também em outras espécies da fauna brasileira.

As artesãs receberam treinamentos em confecção e empreendedorismo, além de orientações sobre conservação da natureza. Desse modo, o projeto constrói uma relação entre a comunidade e o meio ambiente, mostrando como sua conservação traz benefícios ambientais, sociais e econômicos para toda a região.

Enquanto o projeto gera renda, conscientiza a população para a importância do papagaio-de-peito-roxo na Floresta com Araucárias. Jozi Telles, coordenadora do grupo “Amigas dos Roxinhos”, também reconhece a importância do projeto para a comunidade. “Hoje eu tenho um lucro a mais, sem contar que é uma terapia. É muito bom quando a gente faz alguma coisa com amor e todo mundo gosta.”

Para a “amiga do roxinho” Zulmira Lachet, a participação vai além da complementação de renda e da conscientização ambiental. “Conheci o projeto em um momento muito difícil para a minha vida e ele me ajudou a ocupar a mente, além de complementar a renda familiar”, comenta.

Integração entre conservação e economia é estratégica

Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, explica que ações que visam a conservação da natureza têm mais força quando integram várias frentes da sociedade. “Apoiamos o projeto de proteção ao papagaio-de-peito-roxo, que engloba a iniciativa ‘Amigas dos Roxinhos’, pois acreditamos na importância de envolver a população no processo de conservação da natureza. É preciso consolidar essa associação entre desenvolvimento social e econômico e proteção ambiental, pois são pilares que, juntos, se tornam mais fortes e perenes”, afirma.

Segundo Vanessa Kanaan, diretora técnica do Instituto Espaço Silvestre, “o projeto resulta da necessidade de envolver os moradores na proteção da biodiversidade local e estimular a geração de renda na comunidade”. Neste ano, o instituto apresentou uma nova linha de produtos, que também conta com envolvimento comunitário, chamada “Amigos da Floresta”, inspirados em espécies como a gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), o tatu-canastra (Priodontes maximus), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), entre outros.

Situação delicada

O papagaio-de-peito-roxo e a Floresta com Araucárias, ecossistema associado à Mata Atlântica no Sul do Brasil, têm uma relação de dependência mútua. Ao se alimentar de pinhão, a ave transporta a semente, que muitas vezes cai no chão e germina, auxiliando na recomposição desse ecossistema. Atualmente a Floresta com Araucárias tem menos de 3% da sua cobertura original. Além do habitat reduzido, a ave sofre também com a escassez de alimento, agravada pela colheita ilegal e insustentável de pinhão. Apesar de existir regulamentação de órgãos ambientais, a retirada de pinhas imaturas ainda é uma prática recorrente.

Pesquisadores estimam que há 10 anos a população de papagaios-de-peito-roxo era de 10 mil indivíduos. Atualmente, são menos de 4 mil. O trabalho de reabilitação e reintrodução das aves na natureza, além do uso de recursos para simular ninhos em árvores (caixas-ninho), tem contribuído para a melhoria desse quadro. Essas iniciativas estão previstas no Plano de Ação Nacional para Conservação dos Papagaios da Mata Atlântica, que visa a garantir a integridade das populações das espécies por meio da ampliação do conhecimento científico e ações efetivas de proteção a essas aves.

Além desse projeto de reintrodução, a Fundação Grupo Boticário doou, entre os anos de 2010 a 2015, cerca de 1,4 milhão de reais para 11 projetos que executam ações previstas no Plano de Ação Nacional (PAN) para conservação dos Papagaios da Mata Atlântica.

Fonte: EcoDebate

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.