Por Suzana Camargo, Conexão Planeta.
Publicado em 21 de agosto de 2023.
Com 98% das urnas apuradas até este momento, 59% dos eleitores que foram às urnas no Equador ontem, 20/08, disseram que querem o fim da extração de petróleo no Parque Nacional de Yasuní, na Amazônia.
O referendo histórico aconteceu junto com a eleição do novo presidente que vive uma situação política bastante tensa. Apesar do momento delicado, com o resultado da consulta popular o Equador torna-se o primeiro país do mundo a banir por plebiscito a exploração de combustíveis fósseis.
Conforme escrevi nesta outra reportagem, Yasuní é uma das regiões mais biodiversas do planeta. São mais de 980 mil hectares, e em 1989 foi declarado Reserva da Biosfera pela Unesco, por seu valor cultural e natural. Yasuní é habitat de milhares de espécies de animais, entre mamíferos, aves, anfíbios, répteis e insetos.Em suas matas já foram descritas mais de 1.130 espécies de árvores, um volume maior do que as encontradas no Canadá e nos Estados Unidos juntos.
Além disso, o parque é o lar de diversas comunidades indígenas, como os Waorani, Kichwas e Shuar. Abriga ainda os Tagaeri e Taromenane, que optaram por não ter contato com a civilização humana.
Perfurações na região começaram em 2016 e são produzidos quase 55 mil barris por dia. Atualmente o petróleo representa a principal fonte de exportação do Equador, mas a campanha #SíAlYasuní já ganhou repercussão mundial.
Há uma década o coletivo Yasunidos luta na Justiça pelo direito da população de decidir sobre a continuidade da exploração.
O caso é emblemático e pode trazer um exemplo para o Brasil com a polêmica intenção da Petrobras de explorar petróleo na foz do Rio Amazonas e que parece ter o apoio do presidente Lula. A população brasileira não deveria ser convidada a dar sua opinião sobre o assunto também?
“Esperamos que o governo brasileiro se mire no exemplo equatoriano e decida fazer a única coisa compatível com um futuro para a humanidade e com a liderança que o Brasil quer ter na luta contra a crise climática: deixar o petróleo da Foz do Amazonas no subsolo e apoiar, quando assumir a presidência do G20, no mês que vem, um pacto global pela eliminação gradual de todos os combustíveis fósseis”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.