Aconteceu no sábado (22) o Encontro do MAB: Território, Água e Energia, no salão paroquial da Igreja Nossa Senhora de Fátima no município de Josenópolis-MG. Cerca de 40 atingidos das comunidades de Curralinho, Borá, Ouvidor, Cedo, Vila Nova, Recanto Feliz/Córrego da Lapa, Riberãozinho, Araçá, e Córrego do Caeté participaram da discussão sobre as pautas de reinvindicação das populações geraizeiras atingida pela monocultura de eucalipto e denunciaram as violações de direitos causadas pela empresa reflorestadora Norflor Empreendimentos Agrícola Ltda.
Entre as denúncias feitas pelos atingidos, os casos mais graves são:
1) os processos judiciais em que a empresa Norflor está requerendo as áreas ocupadas há mais de 7 gerações pelos geraizeiros sob a falsa alegação de que as terras fazem parte da área de Reserva Legal da empresa;
2) a destruição do cerrado, através do desmatamento para o plantio das monoculturas, não escapando nem as beiras de nascentes e córregos, e a contaminação das águas e dos animais através dos agrotóxicos utilizados pela empresa;
3) as placas espalhadas pela Norflor por todo território, proibindo a solta dos animais em suas áreas plantadas, violando o direito ao modo de vida tradicional dessas comunidades.
Os geraizeiros são povos tradicionais que habitam os cerrados e têm por tradição o costume de plantar em grotas, brejos e utilizar as chapadas, os chamados gerais, como áreas coletivas destinadas à criação de animais à solta e ao agroextrativismo.
“A empresa chegou aqui e nos colocou para fora, com uma mão na frente e outra atrás. Não tivemos o direito nem de reclamar. A justiça sabe, conhece o nosso problema com a empresa, e não faz nada”, afirma dona Albertina, atingida de 65 anos que está sendo processada pela empresa Norflor.
As comunidades também expuseram as suas reinvindicações: “Falta energia, moradia adequada, transporte, estradas, saúde, e educação para nós que vivemos aqui. As empresas estão enchendo seus bolsos de dinheiro e o povo vivendo no completo descaso. Pra nós só tem sobrado a destruição”, desabafa Ornelo Rodrigues, militante do MAB e morador da comunidade de Córrego da Lapa.
Luta e organização dos atingidos
O MAB atua na região há 6 anos, organizando grupos de base e construindo a luta contra este modelo de desenvolvimento pautado na produção de grandes monoculturas de eucalipto, que expulsa e oprime a população tradicional geraizeira, gerando inúmeros impactos socioambientais e explorando os trabalhadores e trabalhadoras da região, com baixos salários e péssimas condições de trabalho.
“A nossa luta é por uma outra alternativa de desenvolvimento para o povo geraizeiro desta região, onde haja a valorização da agricultura familiar, a soberania e o controle popular da água, da energia, dos bens naturais e pelo reconhecimento e demarcação do território tradicional de Vale das Cancelas”, afirma Carine Guedes, da Coordenação Estadual do MAB.
O MAB repudia a postura da empresa Norflor, violadora de direitos dos povos geraizeiros, e segue firme na luta contra esse modelo predatório de exploração dos cerrados e dos povos que nele (r)existem!
Fonte: MAB.