Em greve de fome, brasileiro-palestino preso luta pela liberdade

A família de Islam Hamed está apreensiva. O brasileiro-palestino de 30 anos de idade anunciou uma greve de fome em 11 de abril e mantém-se empenhado no protesto, que coloca em risco, mais uma vez, a sua vida. Em campanha por sua libertação e pela garantia de segurança na mudança para o Brasil, a família apela às autoridades brasileiras pela agilidade no processo de mediação.

Por Moara Crivelente.*

Nadia Hamed, mãe de Islam Hamed, fala da espera pela liberdade do seu filho, em greve de fome desde 11 de abril.

Nadia Hamed, mãe de Islam Hamed, fala da espera pela liberdade do seu filho, em greve de fome desde 11 de abril.

Islam é um jovem pai que já passou quase metade da vida encarcerado. Aos 17 anos de idade, foi preso pela primeira vez pelas autoridades israelenses, na Palestina ocupada. Impossibilitado de acesso à defesa legal, o interrogatório agravou sua situação. Foi condenado por “atirar pedras” contra soldados israelenses e preso. Só viu a liberdade outra vez momentaneamente, aos 21 anos.

Fazendo planos, ficou noivo e tirou a habilitação de motorista e de eletricista. Mas, poucos meses depois, voltou a ser preso, sob a arbitrária “detenção administrativa”, que permite às autoridades israelenses manter um “suspeito” detido por períodos renováveis de seis meses, sem acusação formal, acesso à defesa ou um julgamento. Aos 25 anos, foi novamente liberado, com tempo apenas para se casar e tentar mudar-se para o Brasil, um projeto vetado por Israel. Pouco depois, Islam foi preso novamente, desta vez pelas autoridades palestinas.

O pequeno filho de Islam conversa e beija a foto do pai. Foto: Aline Baker

Há mais de um ano, Islam já poderia ter saído da prisão, pois já cumpriu a pena à qual foi sentenciado. Entretanto, ameaças de assassinato e a certeza do retorno à prisão israelense, garantem as autoridades palestinas, colocam em risco a sua vida. A família de Islam recusa-se a assinar um termo de responsabilidade apresentado pelas autoridades palestinas para que possam soltá-lo, apesar dos riscos. Assinar o documento, diz a família, seria como assinar sua sentença, mas essa recusa não deveria continuar postergando a liberdade.

A mãe de Islam recebeu na Palestina ocupada a delegação brasileira composta por diversos movimentos sociais, inclusive o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), no início de abril, quando explicou a situação do seu filho. Desde então, o caso agravou-se devido à decisão de Islam pela greve de fome. Desde 11 de abril, ele já perdeu mais de 10 quilos e sua saúde deteriora-se rapidamente.

Foto: Reprodução / Campanha “Libertem o Islam Hamed”

Os apelos pela mediação das autoridades brasileiras foram feitos pela família primeira vez em 2013 e repetidos no último 15 de abril. A Embaixada, ou, oficialmente, o Escritório de Representação Brasileiro no Estado da Palestina, sediado em Ramala, costuma representar juridicamente palestinos de cidadania brasileira nas prisões. Entretanto, o caso de Islam, diz o Itamaraty, é mais complicado, devido às ameaças contra a sua vida. Os diplomatas encarregados do seu caso esperam por uma reunião de alto-nível marcada para a próxima terça-feira (28), mas a família teme que seja tarde demais.

A campanha que ganha cada vez mais atenção pela mídia e pela Internet cobra mais agilidade no processo que já assumiu caráter humanitário, emergencial. A ocupação israelense nega aos palestinos a soberania e a dignidade para garantir a segurança, mas o apelo ao governo brasileiro rechaça a transferência desta responsabilidade para a família de Islam e insta as autoridades a mediar esta garantia com o governo de Israel. A maior agilidade do processo e das respostas não só à família como também aos diversos movimentos sociais que já aderiram à campanha se faz urgente.

* Para o Portal Vermelho. Cientista política e jornalista, membro do Centro Brasileiro de Solidariedade dos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), assessorando a presidência do Conselho Mundial da Paz.

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