Em fim de semana trágico, Porto Alegre tem manifestações contra medidas restritivas

 

Já são quase 15 mil vidas perdidas para a Covid-19 no Rio Grande do Sul. No fim de semana, foram notificadas 403 mortes relacionadas à doença – 331 só no sábado, um novo recorde. Ontem o Estado não tinha mais nenhum leito de UTI disponível. A média de ocupação já tinha superado os 100% antes, mas ainda havia leitos no SUS. O quadro mudou na tarde de ontem, quando o índice na rede pública estava em 100% e o da rede privada foi a 136,2%. O colapso leva pacientes que necessitam de tratamento intensivo a serem atendidos de forma improvisada, além de obrigar profissionais a escolherem quem deve receber atendimento.

Mas evitar que essa mortandade aumente não é prioridade de todos. Pelo país inteiro, foram às ruas grupos contrários a medidas restritivas, ações comprovadamente eficazes para conter o avanço do coronavírus. Não contentes em nadar contra a maré da ciência, alguns pediam intervenção militar e fechamento do Superior Tribunal Federal. Por aqui, manifestantes pró-Bolsonaro criticaram o governador Eduardo Leite (PSDB) em carreata que foi do Laçador ao Parcão. Um segundo ato reuniu mais apoiadores do presidente na Rua dos Andradas, próximo ao Comando Militar do Sul, onde também se ouviram gritos contra as restrições da bandeira preta, classificação que completou duas semanas no sábado.

Com menos internações em leitos clínicos do que previa o Governo do Estado em 24 de fevereiro, o cenário hoje seria bem pior sem as medidas restritivas. Mas impactos mais significativos só devem ser percebidos no início de abril, diz a professora de Epidemiologia da UFRGS e integrante do Comitê Científico do Piratini Suzi Camey. Nos hospitais, a expectativa por efeitos mais contundentes é para depois da terceira semana de bandeira preta, primeiro com redução de demanda nos postos de saúde e Unidade de Pronto Atendimento, e depois na lotação da emergência.

Fique em casa – “Se não houver adesão maior da população, vamos chegar em abril e maio enxergando situação muito semelhante”, projeta Camey. Segundo dados da consultoria InLoco, o isolamento social dos gaúchos durante a bandeira preta não só cresceu pouco como está muito longe dos 70% atingidos no ano passado, antes do pico da primeira onda: na quinta-feira, o índice estava em 32,5%.

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