Em dia de memória, Câmara de Curitiba nega homenagem a Marielle Franco

Projeto que dava nome da vereadora a escola municipal foi rejeitado. “A inclusão das mulheres negras é uma luta social, e a Marielle representa isso”

Autora do projeto rejeitado, vereadora Carol Dartora, que já recebeu ameaças de morte, disse que proposta será reapresentada ‘ate que a transformação aconteça’

São Paulo – No dia em que se completaram quatro anos da morte de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, com vários atos em sua memória pelo país, a Câmara Municipal de Curitiba talvez tenha sido a única Casa legislativa a negar explicitamente uma homenagem à vereadora assassinada no Rio de Janeiro (houve rejeição a uma proposta contra violêcia de gênero em Campinas, interior paulista). Projeto que dava o nome de Marielle a um dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) da capital paranaense foi rejeitado ontem (14) por 17 a 11. Oito vereadores se abstiveram, enquanto dois não votaram.

“Se não foi aprovado hoje (ontem), vai ser aprovado na próxima legislatura. Porque a luta vai avançar, porque vocês não vão nos barrar, não vão nos impedir. Eu entrei, eu sou a primeira [mulher negra eleita vereadora] e outras depois de mim virão. Então, essa luta vai avançar”, afirmou Carol Dartora (PT), autora do projeto. Segundo ela, a proposta será reapresentada “até que essa transformação aconteça”.

A própria Carol já recebeu ameaças de morte. “Essa não é uma luta individual nem partidária, pois é uma luta social. A inclusão das mulheres negras é uma luta social, e a Marielle representa isso. Não é mais um macho branco rico, é uma mulher preta periférica que simboliza muito para as pessoas.”

Subterfúgios e ataques

Parlamentares contrários ao projeto usaram subterfúgios e agressões. Dois deles, por exemplo, afirmaram que uma lei exige vínculo do homenageado com a cidade de Curitiba. O portal Plural, no entanto, mostrou que a Câmara aprovou pelo menos quatro homenagens, nos últimos 10 anos, a pessoas sem vínculo com o município: o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, o senador Darcy Ribeiro (eleito pelo Rio de Janeiro, nascido em Minas Gerais), o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e o arquiteto carioca Oscar Niemeyer.

Outros vincularam Marielle à defesa do aborto e da descriminalização das drogas, o que provocou reação por parte de Maria Leticia, procuradora da Mulher na Câmara curitibana, afirmando que o debate sobre aborto é uma questão mundial. Ela lembrou que a própria Casa legislativa tem projetos sobre o uso medicinal da cannabis, inclusive de autoria do líder do governo. “Marielle defendia direitos iguais para todos, pois todos têm direito à defesa”, disse Leticia. A rejeição teve votos de vereadores do DEM, MDB, Patriota, Podemos, PSC, PSD, PSL e Republicanos.

Já Dalton Borba (PDT) disse estar perplexo “pela grande desinformação que permeia o discurso de muitos”. Ele observou que a lei permite homenagens a “figuras, fatos e datas representativas da história local, nacional ou geral”, o que derruba o argumento de um necessário vínculo com o município. “O que mais lutamos é pelo direito de voz do brasileiro e dos seus representantes. O que fizeram com o direito de voz da Marielle? Calaram.”

Com informações da Câmara Municipal de Curitiba

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.